12 de janeiro de 2011
Querido diário, estou pensando em parar a pílula. Eu e o meu marido estamos juntos há dez anos e casados há quase cinco, acho que já é hora. Tenho conversado muito com a minha terapeuta: como tenho um emprego legal, que me permite fazer umas viagens internacionais incríveis, ando entre a cruz e a espada para tomar esta decisão, visto que fiz 30 anos em outubro, e essa data me fez repensar muitas coisas. No mesmo outubro, me mudei com meu marido para um apartamento maior, com três quartos: o espaço ideal para fazer um quartinho de bebê e também para recebermos nossa família, que mora toda fora. Aliás, o fato da minha família morar toda fora é também algo que me angustia muito. Como vou fazer quando o período de licença-maternidade terminar? Não vejo nenhuma perspectiva de ele durar mais do que quatro meses. Coloco o neném na escolinha? Arrumo uma babá? Minha terapeuta diz que é muito cedo para estas encanações.
09 de fevereiro de 2011
Tive uma conversa séria com meu marido sobre a chegada dos 30 anos. Não quero ser tão mais velha que meus filhos, sempre pensei isso, desde que (literalmente) era criança. Meus planos de infância envolviam ser mãe (de pelo menos um) antes dos 30. E agora eles chegaram. Estamos nós dois em bons empregos, meu casamento vai melhor que nunca, moramos em um apartamento grande. Acho que está mesmo chegando a hora. Falei que me afligia percebê-lo meio reticente em relação a este assunto, trouxemos à tona questões das nossas infâncias, a preocupação financeira – afinal, nem temos casa própria nem sabemos se vamos continuar morando em São Paulo ou não – o medo de não saber distribuir as agendas para os cuidados necessários com a criança. Enfim, esclarecemos tudo o que poderia se tornar um “fantasma” antes da possível gravidez. Agora vai.
16 de março de 2011
Me dei conta que algumas amigas de infância já estão indo para o segundo filho. O segundo!!! Marquei uma consulta na minha gineco e falei que quero parar a pílula. Visto que eu e meu marido concordamos que é hora de programar o baby, vou parar o anticoncepcional sem avisá-lo, assim a gravidez será uma semi-surpresa para ele. Imagina que incrível? Chego com o resultado positivo e ele nem certeza tem de que já estamos de fato tentando. Fiz os primeiros exames e está tudo certo comigo. “Comece a tomar o ácido fólico diariamente e já pode tentar”, me disse a médica.
23 de abril de 2011
Hoje é casamento de uma amiga querida e enfrentamos horas de estrada para chegar até lá. Depois de amanhã é Páscoa, família reunida… é, acho que é uma boa hora para parar a pílula. Além do mais, me disseram por aí que quem para a pílula emagrece. Imagina que maravilha?! Estou no quarto do hotel me arrumando para o casamento e… merda! Veio a minha menstruação! Burra, burra, burra! Quem pode ser tão estúpida a ponto de não saber que quando se para a pílula a menstruação vem imediatamente? Corre pra farmácia, marido desconfia: “absorvente? Ué? Você não sabia que ficaria menstruada hoje? Depois de tantos anos de pílula?”. Errr…. é… sabe como é… (ficando vermelha). “Você parou!”.
É, parei. Parei, meu bem, e vamos aproveitar este mês porque TODO MUNDO DIZ que o primeiro mês pós-pílula é o melhor para se engravidar. Se bem que também TODO MUNDO DIZ que a pílula demora alguns meses para sair completamente do nosso corpo… No domingo de Páscoa, família reunida, eu secretamente emocionada, e minha sobrinha pequena, sem nem desconfiar da nossa situação, chega ao almoço falando: “Hoje eu sonhei com o neném da tia e do tio”. É um sinal. Só pode ser um sinal.
22 de maio de 2011
Não era um sinal. Eu não estou grávida. A minha menstruação nem deu pela falta da pílula: foi mais pontual que um relógio suíço. E trouxe consigo cólica, indisposição e uma leve dose de frustração. É, não foi desta vez. Mas não tem problema, vou pesquisar na internet todas as formas naturais de engravidar mais facilmente. Tenho uma amiga que estava com dificuldade, pediu para a médica uma pílula de hormônio, ovulou duas vezes e pimba! Tava grávida no mês seguinte. É, definitivamente vou falar com a minha médica.
15 de junho de 2011
Esse mês vai! Estou sentindo os seios inchados, a barriga também. Começo a conversar com minhas (dezenas de) amigas grávidas e pergunto quais foram os primeiros sintomas que sentiram. As respostas são as mais variadas: dos básicos “não senti nada nem mesmo depois que vi o resultado, os enjoos começaram cerca de um mês depois” e “ah, meus pés incharam e tive dor de cabeça” ao criativo “eu comecei a sentir cheiro de gente. Algumas amigas, inclusive, até enjoaram do cheiro do próprio marido”. Olho para os meus pés: não incharam. Também não estou sentindo cheiro de gente. Droga!
20 de junho de 2011
Minha menstruação chegou novamente, mais pontual que o Big Ben. No dia e período exato que imaginava que ela chegaria. Bem, pelo menos já posso concluir que meu ciclo é regular, porque a esta altura nenhum vestígio de anticoncepcional se encontra em meu corpo: tenho ciclo de 28 exatos dias, então fica mais fácil calcular os dias férteis. Mas só pra ter uma ideia, né? É muito mais legal quando é natural e tô longe de ser aquelas malucas que ficam dizendo pro marido: vamos! É hoje! Acho esse tipo de pressão nada salutar para o casamento. Sem falar em anti-romântico, quebra-clima etc.
18 de julho de 2011
É, não foi desta vez. Pra piorar, fui à minha gineco, que reiterou que está tudo-bem-obrigada comigo, por via das dúvidas vai pedir mais uns dois exames que não costuma pedir tão cedo para suas pacientes “que estão tentando”, mas disse que um casal NORMAL tem apenas 30% de chances de engravidar por mês. A gente se prende nas histórias de amigas que engravidaram na época da escola e juram que “foi só uma vez” ou em novelas e cinema, em que uma única linda noite de amor resultou em uma bela e saudável gravidez. Na vida real, me prometeu a médica, as chances são realmente baixas. E disse que só me indicaria para um especialista em reprodução depois de DOIS anos tentando.
Saí da consulta entre tranquila (ufa! Somos normais!) e desesperada: será que vou aguentar dois anos? Também aproveitei a consulta para fazer algumas perguntas imprescindíveis: doutora, nas duas semanas que antecedem a minha menstruação devo evitar queijos de leite cru, comida japonesa, steak tartare e pintar os cabelos? Sabe? Essas coisas que grávida não pode fazer? A resposta dela: NÃO! Só se prive depois que confirmar a gravidez. Confesso que a achei meio insensível. Acho que vou continuar evitando sashimis todos os meses enquanto permanecer naqueles 10 dias de dúvida.
10 de agosto de 2011
Tive um jantar de trabalho: no cardápio, pratos com peixe cru e vinho. Ai, meu Deus, esse mês eu acho que estou grávida, e não tive como evitar este jantar. Mal consegui pregar os olhos à noite.
16 de agosto de 2011
Não estou grávida. Será que foi o peixe cru? Uma torta de banana com canela que comi estes dias? Acho que estou pegando pesado na academia. E essa poluição de São Paulo? Não tem saúde que resista. Será que a solução é ir embora?
15 de outubro de 2011
Uma amiga liga para contar a linda notícia: está grávida! Que incrível! Pergunto como foi. “Ah, nem sei, parei de tomar a pílula e quando a menstruação atrasou nem dei bola: achei que estava desregulada. Mas aí atrasou mais uns quatro dias e resolvi fazer o exame”. Ah, tá. E o que você sente? “Nada. Nem parece que estou grávida”. Ah, tá.
12 de novembro de 2011
Minha menstruação veio novamente. Estou ficando muito fragilizada com esta situação e parece que a cada dia no meu Facebook tem pelo menos UMA grávida nova.
02 de dezembro de 2011
Férias. Eeeee! Descanso merecido. Juro para mim mesma: agora você desliga de tudo, descansa, vai pra praia, namora e… engravida.
10 de dezembro de 2011
É, não engravidei. E fiquei menstruada bem no meio das férias. Que óóóóótimo!
Primeiro semestre de 2012
Passo meio ano entre frustrações mensais, horas chorando na terapia, amigas próximas dizendo: “sonhei que você estava grávida” e muitos “nossa, não achei que fosse tão rápido. Ainda mais eu, que sou desregulada, mas já estou no terceiro mês” e vários outros: “fulaninha está falando mamãe, fulaninho está andando, olha que bonitinho!”.
Segundo semestre de 2012
Em outubro, resolvi parar de postergar minhas decisões profissionais por conta da gravidez e trocar de emprego. Não foi uma decisão muito fácil, mas teve um risco calculado e eu pre-ci-so mudar minha rotina. Funcionou, estou satisfeita com meu novo dia-a-dia e, quer saber? Quando recebi o contrato por e-mail, para ler antes de assinar, cheguei a chorar: tenho direito a auxílio-creche. Não é lindo? Certeza que tinha sido por isso que eu ainda não tinha engravidado. Ufa!
Janeiro de 2013
Tive uma oportunidade incrível no trabalho. Vou para a Índia, dá pra acreditar? Vai ser ótimo mudar o foco porque estou entrando em parafuso: em abril completo dois anos tentando e nada!
Abril e maio de 2013
Marquei uma consulta com minha médica que finalmente concordou em me indicar um especialista em reprodução. Fomos ao especialista, que pediu uma quantidade assustadora de exames. Detesto tirar sangue, tenho medo de agulha e pavor de cheiro de hospital. Mas vamos lá.
Junho de 2013
Conversei com algumas pessoas que estão tentando há um bom tempo e elas me disseram que a rotina de exames e laboratórios está só começando e que alguns, inclusive, são bem invasivos. Que medo!
Julho de 2013
Foram-se praticamente dois meses até conseguir agendar, realizar e ter o resultado dos exames. Com toda essa ansiedade, estou começando a ter insônia, coisa que nunca tive. Analisando a pilha de exames que imprimi em casa, o médico tira a conclusão de que está tudo normal comigo e com meu marido. Até que me lembro: ah, doutor! Este aqui eu anotei à mão, porque era só um numerozinho e eu fiquei sem tinta na impressora. Ele se chama “hormônio anti-mulleriano”, mas de acordo com a referência que eles apresentam de parâmetro está tudo bem. O normal para mulheres da minha idade é estar abaixo de 2 e eu estou bem abaixo: com 0,2. É quando ele me olha, sério, e diz: “então vamos ter que correr. Este hormônio, entre outros fatores, também indica a reserva ovariana, ou seja: quantos óvulos ainda te restam. E tua reserva está bem baixa. Na verdade, semelhante a uma mulher em pré-menopausa”. Me desespero e começo a chorar no consultório: “e agora?” E ele me responde: “podemos começar uma inseminação artificial hoje mesmo, você está bem no período correto do ciclo (primeiros dias)”.
Agosto de 2013
Meu marido não quer nem ouvir falar no médico. Achou tudo muito precipitado e prefere procurar outro especialista, que tenha um olhar mais cuidadoso e menos impulsivo. Temos uma amiga que sofreu muito – inclusive fisicamente – com tratamentos radicais, em que o médico tinha pressa em mostrar o resultado, e acabou nunca engravidando… pensando bem, acho que ele tem razão.
Setembro/outubro de 2013
Decidimos raspar todas as economias e fazer um tratamento de fertilização in vitro (aqui no site você vai entender exatamente o que isto significa), que custa por volta de R$20.000. A fertilização tem mais chances de gravidez que a inseminação, a gente toma muita injeção (agulha fina, como de insulina, mas é, sim, injeção) de hormônio na barriga, faz ultrassom dia sim, dia não e vai vendo crescer a angústia – no meu caso, claro – de ter poucos óvulos com tamanho suficiente. “Tudo bem, só precisamos de dois”, me diz meu médico. E foi exatamente o que eu tive: dois óvulos maduros. Meu marido colhe o material e a fertilização é feita em laboratório.
O médico acompanha o desenvolvimento do embrião por três a cinco dias para ver se ele “vinga” e se vale a pena implementá-lo. Vingou! Uma alegria. Meus pais estavam aqui, choramos, rimos, nos abraçando, contando, finalmente com um final feliz… que não aconteceu. Duas semanas depois, faço o exame de sangue e dá negativo. Isto nos abalou profundamente: fizemos tudo da maneira correta, passei dias sem me exercitar, sem levantar peso, um dia inteiro de repouso (o que, na história da minha vida, deve ter acontecido umas três vezes, no máximo), por que, então? POR QUÊ? Misturam-se a sensação de impotência, de frustração, de medo do futuro, de incapacidade, de dor, de desamparo e solidão. E também de revolta: será que eu não mereço ser mãe? Não merecemos ser pais?
Final de 2013
Como o tempo voa! Já é Natal e vamos encontrar a família, desligar um pouco de todo esse assunto. Seria verdade, não fosse a meia dúzia de amigas que me contou estar grávida justamente nesta semana. É, como diria uma música dos anos 80/90, não está sendo fácil…
Março de 2014
Fui demitida. Algo totalmente inesperado e que eu, ingenuamente, achava que nunca aconteceria comigo. Enquanto meu chefe dizia aquelas palavras eu só escutava “enxugando custos” e “nova fase da revista” lá longe, ecoando no meu cérebro, mas, no meu coração eu sentia – olha que louca!: “então é agora. Todo mundo diz que, quando sua vida desanda, você engravida”. Quem sabe era isso que faltava?
Abril de 2014
Viagem marcada e paga, sigo com meu marido rumo a um mês de férias em NY. A esta altura eu já tinha vontade de dar um beliscão e um chute em cada pessoa que me dizia: agora você “desencana”! Ô palavrinha dos infernos. Ninguém que vive um sonho diário e uma frustração mensal há três anos consegue desencanar. Me desculpem, mas se falaram isso pra você, ponho minha mão no fogo como é mentira.
Junho de 2014
Bate o desespero pós-volta das férias e desempregada. Agora realmente era hora de focar na minha carreira. E foi o que eu fiz: me joguei no trabalho e dei um tempo para a questão da gravidez. Mas aquela pulguinha continuava atrás da minha orelha.
Setembro de 2014
Meus pais resolvem nos incentivar em uma nova tentativa de fertilização – e dão o apoio emocional e financeiro necessário para isso. Mas, desta vez, o resultado foi ainda mais dolorido: não tivemos sequer um embrião, pois meus óvulos não amadureceram o suficiente. Muito abalada, começo a sentir um aperto no peito que parece não passar nunca, e me persegue dia e noite. Eu não diria que entrei em depressão – até porque sempre fiz acompanhamento com minha terapeuta de florais. Mas a coisa, definitivamente, não ia bem.
Dezembro de 2014
Meu fim de ano não foi legal. Eu estava triste e qualquer comentário me chateava: do “desencana” ao “quando você for mãe, você vai ver”, passando pelo “é um amor que só mãe sente” e pelo “Deus sabe o que faz”. A neura estava no limite do insuportável e para onde eu olhava, via grávidas: a garçonete do restaurante, a mulher que sentava à mesa ao lado da minha em um café, a nova cliente, a família, as amigas… começo a me sentir muito sozinha – afinal, ninguém próximo a mim e a meu marido havia vivido situação semelhante (ao menos não que soubéssemos ou tivéssemos acompanhado de perto). Ninguém na minha família tinha tido problemas pra engravidar ou passado por gravidez de risco. Só torço para essas festas de final de ano passarem bem rápido.
Começo de 2015
Minha prima querida comenta sobre um médico em que foi sua vizinha, que há anos tentava engravidar: ele pediu exames que nenhum outro especialista havia pedido, tratou-a e ela engravidou! Não tinha nada a perder e estava muito cansada de não ter um diagnóstico. Fui atrás dele.
Primeiro semestre de 2015
Realmente, o dr. Mario foi sensacional: por não ser especializado em reprodução, ele se preocupou em nos dar um diagnóstico e, vou falar para vocês, não ter um diagnóstico era o que mais me angustiava. Eu, honestamente, preferia ter sido “desenganada” (ter tido logo o diagnóstico de infértil, sabe?) a ficar no vácuo, sem ter nem ideia do que estava tirando este sonho de mim. Eu sabia que não adiantava fazer mil FIVs se não soubesse o que acontecia comigo. E começou um novo périplo de exames: para investigar uma possível incompatibilidade minha com meu marido, exame de sangue e ressonância para identificar possível endometriose, qualidade do muco… A única coisa que descobrimos por enquanto é que meu muco não tem muita qualidade para que os espermatozoides se desloquem facilmente.
Setembro de 2015
Neste caso, então, uma inseminação artificial, muito mais barata que a fertilização, resolveria, pois colocaria os espermatozoides já no lugar certinho. Por cerca de R$2.000 e no consultório dele, sem anestesia nem nada, fizemos o procedimento que, aparentemente, seguiu um curso perfeito e ainda, pela primeira vez, me trouxe um sintoma: eu sentia cólica todas as noites, o que pode ser um indício de gravidez – e que, para alguém que se olhava no espelho todos os dias, por anos, tentando encontrar uma alteração no corpo que fosse, para renovar a esperança, foi devastador. Devastador porque teve resultado negativo. Eu estava viajando, acessando uma internet ruim, que caía o tempo todo e, quando consegui finalmente ver no site do laboratório, quase desmaiei. Literalmente. Aquele resultado negativo exauriu as forças que me restavam. Não consigo mesmo explicar a dor daquele momento, mas a sensação era de que o mundo ruía aos meus pés. Quem nunca passou por isso não entende, mas a verdade é que tentar engravidar sem sucesso por muitos anos (a esta altura, 4 anos e meio, já) é como viver um pequeno luto a cada mês. No meu caso, com o fantasma dos óvulos se esgotando, então, o luto nem era tão pequeno assim…
Outubro de 2015
Querido diário, contamos tudo para o médico e ele pensou: “vamos fazer uma biópsia do seu endométrio. É mais invasivo, mas ele pode ter algo que a ressonância não identificou, visto que a princípio, você ‘engravidou’. Só que o embrião não se fixou no útero”. Fiz a biópsia em Curitiba, onde consegui um bom médico pelo meu plano de saúde. Meu endométrio foi diagnosticado como “disfuncional”. Disfuncional, segundo meu médico, significava que eu ainda não tinha endometriose (um dos terrores de quem deseja engravidar, visto que é uma doença silenciosa e que acomete muitas mulheres), mas caminhava para uma. Ele sugeriu, então, um procedimento com anestesia e internação no hospital (na minha cabeça: horror!) para fazer uma aspiração do endométrio. É como se, explicando para leigos, você raspasse a cabeça na esperança de que o novo cabelo nascesse melhor. Será que agora vai?
Novembro de 2015
Compramos nosso primeiro apê. Muitas emoções, mudança, e vida profissional a mil! Será que agora esse bebezinho vem?
Dezembro de 2015
Decidimos esperar as emoções familiares do final do ano passarem para investir (literalmente, mais uma vez, mais de R$2.000 porque, claro, o convênio não cobria) no procedimento.
Janeiro de 2016
Finalmente, agendamos o procedimento. Foi uma internação chatinha em uma maternidade bem conceituada aqui de São Paulo, porque ela estava lotada e não conseguiam nem quarto para mim, nem horário no centro cirúrgico. A cada nova enfermeira que vinha tirar minha pressão ou checar a pulseira com o meu nome, a mesma pergunta: você estava de quantos meses? E a mesma resposta: eu nunca engravidei, esse procedimento de aspiração do endométrio é justamente para isso. Chatinho também foi convencer o anestesista que eu não aceitaria uma anestesia peridural e só faria se fosse com anestesia geral. Meu gineco precisou intervir porque eu estava pronta para armar um barraco. Se tem uma coisa que todos esses anos de médicos, hospitais e exames me ensinaram foi a impor a minha vontade. A paciente sou eu, poxa! Foi tudo tranquilo afinal, como eu queria, só levei uma picadinha na veia e apaguei, mas como tudo aconteceu no final do dia, precisamos dormir no hospital e eu enjoei um bocado na volta da anestesia. Tivemos alta e a orientação do médico foi: vida normal. Procedimento feito, as esperanças se renovam e, para dar uma forcinha à natureza, tomo pelos próximos quatro meses um medicamento que, segundo orientação do meu médico, vai regular o ciclo e também melhorar meu endométrio. E também um estimulante ovariano, por três meses. Vai que?
Abril de 2016
As esperanças de engravidar naturalmente se exauriram. À custa de muita meditação, muito choro, muita terapia e muitas conversas com meu marido e nossos pais e irmãos, decidimos adotar. Até porque soubemos que o processo é bem demorado, e se quisermos adotar um bebê – como é nosso sonho – isso deve acontecer dentro de quatro (sim, QUATRO) anos. Vamos atrás de informações para esta nova luta. Conseguimos agendar o “curso para adotantes” obrigatório no Fórum da Vara da Infância e Juventude mais próximo de nosso endereço para daqui a dois meses, apenas.
10 de junho de 2016
Querido diário, fizemos o curso de adotantes no fórum que fica perto da nossa casa e ele foi cheio de fortes emoções. Depoimentos de casais que adotaram, histórias muito tristes de maus tratos a crianças, dados da adoção no Brasil, razões para a morosidade do processo, vídeos muito emocionantes, enfim, não foi bolinho nos mantermos firmes e fortes ali, pois tínhamos muito medo de parecer frágeis e despreparados. No final, nos informamos sobre toda a documentação necessária para dar andamento ao processo. Até o final do mês, devemos protocolar tudo no fórum. Estamos esperando apenas um documento.
14 de junho de 2016
Hoje fui ao lançamento do livro “Te amo até a lua”, da querida Ana Davini, que escreveu justamente contando sua experiência com a infertilidade, os tratamentos e o processo de adoção, dando o passo a passo e contando como se sentia. Foi o empurrãozinho que eu precisava para dar vida a este site, que estava na minha cabeça e no meu coração há pelo menos dois anos. Minha intenção aqui é que você se sinta como eu me senti ao conversar com a Ana: menos sozinha e desamparada, me sentindo menos incapaz, triste e solitário nesta batalha que é ser mãe.
16 de junho de 2016
Confesso que após ler o livro, pensei não ter esgotado todos os exames e todas as chances de ter um diagnóstico e, quem sabe, uma gravidez natural. Talvez a gente procure um novo médico ou mesmo tente mais uma inseminação com este atual. Não sei. Sei que este ainda é um assunto que povoa meus sonhos, meus dias cinzentos, minha TPM, meus olhos toda vez que vejo uma mãe com um bebê no colo, meu espírito sempre que encontro com uma gestante, minha memória sempre que me deparo com uma história difícil de gravidez que deu certo no final. E não sei se isso um dia vai passar, mas a vida se move, como gosta de dizer meu marido, companheiro e amigo para quem, em um dia especialmente difícil, eu cheguei a falar que devíamos nos separar, pois era justo que ele tivesse um filho natural, e eu provavelmente não poderia dar isso a ele.
19 de junho de 2016
Hoje vamos a um grupo de apoio a adotantes e esperamos nos sentir menos sozinhos nesta jornada.
20 de junho de 2016
Sabe o luto? Quando você perde alguém que amava muito e precisa passar por um período de recolhimento, por alguns dias – ou meses ou anos – tentando entender aquela dor, e depois conviver com ela para, por fim, sobreviver apesar dela e seguir em frente? Então, com a impossibilidade de engravidar, ele pode não existir. Isso porque o diagnóstico – bem comum – de “infertilidade sem causa aparente” não dá o ponto final de que você precisa para entender que é hora de desistir e partir para outro momento da sua vida: seja um futuro sem filhos, seja a adoção.
Ontem estivemos pela primeira vez em um grupo de apoio à adoção e a palestra da psicanalista mexeu muito conosco. Ela disse – com boas doses de razão e uma pitada de radicalismo, na nossa opinião – que, enquanto um casal não vence o luto da não-gravidez, sua mente está ocupada pela ausência, e que talvez nessa mente não haja espaço para uma criança adotiva. Desde então, algumas questões não param de martelar a minha cabeça: já superei este luto? Pior: ele sequer começou? Como vou saber que superei? Será que algum dia vou superar? Muitas perguntas, nenhuma resposta…
24 de junho de 2016
Hoje fui encontrar meu marido no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo. Peguei um Uber, e o motorista seguiu o Waze, aplicativo mais usado na cidade, eu arriscaria dizer. Só que já era de noite e o Waze, para escapar do trânsito, nos levou para o meio da Cracolândia. Fiquei com um pouco de medo, é claro, principalmente quando os moradores de rua fecharam a esquina, ali, de pé, fazendo uma fogueira para afastar o frio. Eu nunca tinha visto tão de perto. Foi um choque muito grande ver aquelas pessoas reduzidas ao máximo da miséria e do desespero. Minha sensação nítida é de que só havia corpos, sem alma, ali. E na sequência do breve medo de que eles atacassem o carro veio um turbilhão de pensamentos à minha cabeça: e se meu filho vier dali? Será que eu vou saber conviver com isto? Será que ele terá sequelas físicas? Mentais? Emocionais? E se eu recusar “mãe usuária de craque” na ficha de adoção? Estarei tirando uma chance de uma criança de ter uma infância saudável e uma vida feliz? Sou uma bruxa por considerar esta possibilidade? E o pior dos pensamentos: se eu não engravidei até agora é porque realmente não era para ser, pois estas mulheres que vivem uma vida tão sem perspectiva, saúde, alimento, abrigo, estabilidade emocional etc etc e mais uma leva de eteceteras engravidam não uma, mas segundo dados informais dos fóruns de família, diversas vezes. Vai ver não era para ser mesmo. Está na hora de eu dar um passo adiante.
26 de junho de 2016
Fui com meu marido visitar um casal de amigos que teve neném há pouco. À parte o papo entre eles e o outro casal que os estava visitando que, claro, falavam dos encantos da maternidade e paternidade (e como sempre dá uma apertada no coração da gente), estava indo tudo muito bem e até saímos para tomar um sorvete. Aí a esposa dele me contou que teve dificuldade para engravidar e que os médicos haviam tirado todas as suas esperanças devido a um diagnóstico de ovário policístico. Depois de consultar outros especialistas – que repetiram o péssimo prognóstico, reforçando que ela ainda podia desenvolver diabetes e não sei o que mais… ela decidiu procurar em sites internacionais e se deparou com um chamado Flo Living. Lá, uma médica americana conta que desenvolveu um protocolo – ou tratamento – baseado na alimentação e no estilo de vida, com o objetivo de equilibrar os hormônios das mulheres. Era caro, cerca de US$300, mas ela decidiu fazer. E deu certo! Ela teve uma gravidez saudável e parto humanizado, sem anestesia. Ambos vão muito bem, obrigada. A minha cabeça é que não vai… já comecei a buscar em todos os sites estrangeiros possíveis cura natural para endométrio disfuncional e pouca produção de muco. É uma nova esperança? É. Mas, ah, bem agora que eu estava começando a viver este luto, isso virou minha vida de cabeça para baixo. E o vazio voltou a se instalar aqui.
30 de agosto de 2016
Hoje eu estou com um grande aperto no coração: as duas notícias mais faladas do dia são sobre dois pais que mataram seus filhos. Eu não consigo imaginar que momento de tristeza profunda e desespero leva um pai a cometer um ato tão horrível. Tão horrível que ambos, na sequência, se mataram também. Se para qualquer ser humano este tipo de notícia choca e machuca, preciso confessar que me dá enjoo. Fisicamente mesmo. Minha vontade infantil (ou primitiva?) era dizer para estas pessoas: dá pra mim que eu cuido! É óbvio que o buraco é bem mais embaixo e que este tipo de atitude pode soar para você como egoísmo. Mas ele também é bem verdadeiro. Eu cuido, eu nino, eu embalo, eu sustento, eu coloco pra dormir… Minha cabeça fica mesmo dividida entre a compaixão por estes pais e a sensação de que existe uma certa inversão de valores na sociedade e eles são apenas reflexo disso: o dinheiro é tão importante, mas tão importante, que quando ele acaba, mesmo que momentaneamente, a vida perde o valor. Hoje acabei lendo um artigo que defendia que o ato deles pode ser também um reflexo do machismo nosso de cada dia, que dá ao homem a sensação de que a mulher e os filhos são sua posse, e por isso ele precisa mantê-los e tem poder de vida e morte sobre eles. Eu, confesso, fico tão perturbada com tanta tristeza que não consigo formar nenhuma opinião…
Algum momento de 2016
Durante o processo de adoção, uma das etapas é uma conversa com uma psicóloga e a nossa foi um ser realmente iluminado. Quando tive minha entrevista sozinha com ela – que me assustou, afinal, já tínhamos tido uma entrevista como casal e precisei voltar – desabei e fiquei supertensa, pensando que chorar durante a conversa pudesse me prejudicar. Ela me disse que era normal e, para que eu recuperasse o fôlego, pedi que ela contasse a sua história, pois ela já havia mencionado que tinha tido dificuldade para engravidar. Devido a uma trombofilia, depois de vários tratamentos e duas perdas – tratadas de uma maneira bem cruel pelo médico dela, que sugeriu que era normal perder três bebês, no quarto daria certo – ela conseguiu engravidar, mas teve uma gestação preocupante, cheia de riscos e em repouso absoluto. No final, deu tudo certo, mas ela disse algo que mexeu demais comigo: “a minha gravidez não foi essa coisa mágica que você imagina. Não fiz chá de bebê e mal tenho fotos grávida. Foi cansativo ficar com as pernas para cima, mal podendo me mexer o tempo todo. Mas meus filhos estão aí, saudáveis. Preste atenção, Priscilla, a gravidez passa, os filhos ficam. E são eles que importam”. Ela não faz ideia do quanto me fez bem dividindo sua dor e seu aprendizado comigo.
10 de abril de 2017
O site Cadê Meu Neném? está no ar desde dezembro e eu tenho tido uma resposta tão motivadora, tenho conversado com mulheres tão inspiradoras que a esperança de engravidar tem voltado aos poucos. Já escrevi aqui sobre ayurveda, acupuntura, aromaterapia e a importância de consultar um imunologista e uma endocrinologista neste processo. Agora, eu pretendo recorrer a estes profissionais. Primeiro, procurei uma terapeuta ayurvédica, que me prescreveu uma dieta desintoxicante e pacificadora do Pitta, dosha predominante em mim. Tivemos uma consulta de três horas em que ela fez várias perguntas sobre família, emoções, sintomas e estilo de vida, antes que ela me prescrevesse esse detox. Para uma pessoa que ama comer, como eu, não foi fácil passar 18 dias sem qualquer tipo de cafeína, álcool, carne, derivados de leite e mais as restrições de Pitta, como castanhas, tomate, berinjela, cebola e alho. Mas me senti como se tivesse vencido uma batalha. Ontem pela manhã, tive cólicas muito fortes, semelhantes às que eu tinha quando adolescente, com direito a náuseas e suor gelado. Hoje, adivinha?, veio minha menstruação, com mais cólicas e coágulos. E eu não sei se é pela ausência de estimulantes (açúcar, cafeína e álcool) na dieta, mas o fato é que pela primeira vez em muito tempo respeitei meu corpo e me dei de presente uma hora deitada na cama em posição fetal, lendo um pouco mais sobre o que o ciclo menstrual e a menstruação em si representam para a Ayurveda. A verdade é que eu costumo passar por cima de mim mesma como um trator e não sou nada condescendente com as minhas dores. Tinha até colocado a roupa de academia e estava pronta para correr, afinal – desde sempre – pre-ci-so desesperadamente emagrecer. Mas resolvi que não. Que eu coloco mais pressão nas minhas costas do que realmente é necessário. Tomo um remédio e sigo em frente como se nada estivesse acontecendo. MAS ESTÁ. E dói. Dói em todos os sentidos: fisicamente e emocionalmente. E hoje, só hoje, eu vou me respeitar e aceitar isso sem colocar um sorriso nos lábios e fingir que está tudo bem. Ou será que a falta de chocolate e café já está me causando alucinações?
Final de abril de 2017
Por indicação de uma leitora aqui do site, a Carina, resolvi procurar um novo médico: o dr. Ricardo de Oliveira. Quando liguei para agendar, descobri algo curioso: ele é imunologista. “Ué, mas ele não é gineco?”. “Não”, responde a secretária. “Obstetra? Especialista em reprodução?”. “Não também”. Que curioso. Fomos ao dr. Ricardo e gostamos dele: seguro, preparado e, depois de tanto desgaste emocional que passamos, tem uma característica fundamental: é super humano!
Maio de 2017
Fomos ao dr. Ricardo e gostamos muito dele: ele tem um índice muito alto de sucesso com gestações naturais. Sim, naturais! Ele de fato investiga a fundo o casal para chegar a um diagnóstico. E chegamos a um ponto da nossa jornada em que ter esse diagnóstico vai nos trazer uma paz de espírito, mesmo que seja para dizer: vocês não podem engravidar. Gostei muito da seriedade dele, e provou estar sempre atualizado, participando de congressos e escrevendo artigos científicos em revistas do mundo todo. Ele nos pediu exames que nunca havíamos feito antes e nos trouxe nova esperança.
Junho de 2017
Fizemos todos os exames. Marido, claro, apenas espermograma e um de sangue. Eu, vários de sangue, ultrassom com preparo intestinal e histeroscopia. Não vou mentir que foi fácil: senti muita dor na histeroscopia (de novo!). O medicamento que deveria ter me deixado “grogue” para sentir menos dor teve efeito atrasado e só depois que cheguei em casa foi que senti sono. O ultrassom com preparo intestinal também foi chatinho – nunca tinha tomado medicamentos laxantes e a sensação não é a melhor do mundo. Mas pelo menos não doeu. E melhor: finalmente teremos nosso diagnóstico!
Julho de 2017
Com o diagnóstico em mãos, definimos os tratamentos. Resultado dos exames: eu estou toda “estragada”. ☹ Tenho uma endometrite – uma inflamação no endométrio causada por miomas, que é autoimune e crônica, ou seja, não tem cura definitiva – e trombofilia, que é a causa mais comum de perdas espontâneas. Até questionei o dr. Ricardo: “mas eu nunca tive problemas de circulação e, principalmente, nunca cheguei a engravidar”. Ao que ele respondeu: “como você sabe? Você pode ter até tido embriões, mas por essa questão de circulação eles não se fixaram”. É, me convenceu. Além disso tudo, estou tomando um remédio para minha tireoide (também autoimune, em um índice que indica uma pré-tireoidite de Hashimoto) que a endócrino mandou. Para a questão do muco, que não produzo (eu não percebo aquela clara de ovo saindo do colo do útero no período fértil, sabe?), estou tomando o FertiSOP, que também promete melhorar a qualidade dos óvulos. De quebra ainda tenho uma incompatibilidade genética com meu marido, apontada no exame de Cross-Match. O dr. Ricardo me explicou que como o embrião tem 50% de carga genética da mãe e 50% do pai, é como se meu organismo rejeitasse o pobrezinho. É bem como um organismo que recebe um órgão transplantado e o rejeita, sabe? Para completar, produzo células chamadas NK (literalmente, Natural Killers = assassinas naturais. Que medo!). Por fim, realmente meu estoque de óvulos está bem baixinho. O médico foi categórico: vamos tentar por três meses naturalmente, mas se você não engravidar, sugiro procurar um novo especialista em reprodução para tentar nova fertilização in vitro. Saímos do consultório entre apreensivos – quanta coisa! –, chateados (como nenhum médico tinha notado nada disso até hoje? Fazem seis anos!) e aliviados. Sim, finalmente temos nosso diagnóstico!
Agosto de 2017
Depois do diagnóstico (que contei aqui), começamos todos os tratamentos. Pela ordem, são eles: 1. Agendei a cirurgia de raspagem (mais especificamente cerclagem com alça fria) do endométrio e sei que depois de resolvida essa questão preciso tomar corticoides que vão manter meu endométrio saudável por um certo tempo, até que eu consiga engravidar. 2. Comecei a aplicar diariamente na barriga a injeção para controle da trombofilia. 3. Prossigo tomando diariamente em jejum o comprimido para o desequilíbrio na tireoide. 4. Prossigo tomando o FertiSOP para melhorar a qualidade dos óvulos e a produção do muco. 5. Para o teste de cross match incompatível, fiz aplicações intravenosas de Intralipid no laboratório: elas demoram duas horas e não são a maior maravilha do mundo pra quem não gosta de agulha, mas até que passa rápido. O problema? Dura apenas dois meses, então se não engravidar rápido, vou precisar de novas aplicações (God!). De resto, é tentar naturalmente e rezar. Quando sair o beta positivo (#oremos), preciso correr no laboratório para aplicar a Imunoglobulina. Mais gastos, mais cansaço, porém com uma nova esperança.
Outubro de 2017
Meses se passaram, estou seguindo os tratamentos direitinho, ainda não engravidamos e fiquei arrasada com a chegada da minha menstruação esse mês. Voltamos ao dr. Ricardo para saber como prosseguir e ele nos encaminhou diretamente para um especialista super renomado. Nova espera, nova consulta de uma hora, novo “passeio” pela minha imensa pasta de exames e… o médico pediu mais alguns. Uma ressonância magnética da pelve com preparo intestinal, uma batelada de exames de sangue e de urina. Lá vamos nós rumo a uma nova jornada.
21 de dezembro de 2017
O Natal está aí e sinto que mais uma vez não vou poder dar a notícia tão sonhada para a minha família. Alguns dos exames pedidos pelo especialista em reprodução tinham dia certo do ciclo e como os de sangue eram muitos, acabei dividindo em três “picadinhas”. A terceira, chamada Pesquisa do Cromossomo X-Frágil demorou para sair porque meu convênio não cobre e fiquei pesquisando um lugar mais barato para fazer: na maioria dos lugares esse exame não custa menos de R$1.000. E adivinha se o convênio cobre? Agora, é tentar relaxar antes dessa nova FIV. Amanhã viajaremos para passar o Natal e o Réveillon com nossa família, no Paraná. Desejo muito não sofrer por conta de toda essa jornada, mas antevejo algumas lágrimas e alguns “é só desencanar que agora nas férias vai”. |-_-|
20 de fevereiro de 2018
Tem um vulcão ativo dentro do meu peito. Com ele em erupção, até respirar se torna difícil. Ele parece sufocar as batidas do meu coração e o pobre coitado precisa fazer o dobro de força para bater na velocidade habitual. Não, não existe nada de errado com a minha pressão ou com as minhas artérias. É que amanhã começa minha terceira fertilização in vitro. Desde que levantei de madrugada ontem, acordada pelas cólicas que me visitam todos os meses e vi que a menstruação tinha chegado, esse processo que combina ansiedade, esperança e gratidão por tentar mais uma vez tem me invadido noite e dia. Na maior parte do tempo, sinto que está tudo sob controle, afinal, o combinado com o novo médico é um “pacote” de 3 FIVs antes de vermos o que fazer a seguir (no meu coração, já sei, esse é o meu limite). Mas é quando a gente menos imagina que percebe que a angústia tá ali, escondidinha. Eu descobri a minha quando sonhei essa noite que um gato me atacava como se fosse um vampiro. E me mordia. E olha que eu adoro gatos! Pesquisando sobre sonhos, vi que o significado desse tipo de pesadelo é… medo. Taí, medo. Mas sempre fui da teoria que se quero, vou. E se tenho medo… vou com medo mesmo. É, começa amanhã minha terceira fertilização in vitro. A sorte está lançada. E eu decidi fazer tudo diferente dessa vez: ao invés de guardar esse momento só pra mim e para o meu marido contei para a família e amigos e vou dividir aqui com vocês, no Cadê Meu Neném?. Aqui, ofereço e busco forças, vindas de quem passa ou passou pela mesma situação e sabe: nós não estamos sós.
21 de fevereiro de 2018
Sinais. Passo minha vida procurando por eles. Sempre acho que eles vão ajudar a entender os mistérios da vida. E hoje, quando desci do carro atrasada, enquanto meu marido foi procurar uma vaga para estacionar, parei na esquina para poder atravessar a rua e um raio de sol bateu no meu rosto. Só pode ser um sinal, pensei. Fizemos o primeiro ultrassom com um resultado ruim, mas esperado: tenho 4 folículos. Poderia ser pior, segundo o médico. “3 seria péssimo”, diz ele. Ó-ti-mo. Vamos nos contentar com 4 então. Para estimular a resposta dos meus ovários, que costuma ser fraca, ele me receita um comprimido a cada 12 horas, além, é claro, das injeções de hormônios que já tomei nas outras duas FIVs. Depois de um dia intenso de trabalho, eu e marido recordamos o passo a passo para a injeção: quebra o vidro do líquido que dilui, suga com uma seringa, aplica no pozinho em outro pote, suga novamente e troca a agulha por uma mais fininha na hora de aplicar.
Não sei se é porque estou acostumada a me aplicar injeções todos os dias por causa da trombofilia, mas o fato é que não doeu. Para prevenir a dor da picada, fiz como faço todos os dias e passei uma pomadinha anestésica antes. Também tomei um banho antes para relaxar e pinguei no banheiro umas gotinhas de óleo essencial relaxante. Tudo para contribuir com meu estado de espírito, que está razoavelmente bom nesse processo. Agora é torcer para o meu organismo responder bem e esses folículos crescerem bem até segunda-feira, quando voltamos lá para um novo ultrassom.
05 de março de 2018
Quando a gente resolve fazer uma FIV novamente sabe que vai passar novamente por um processo doloroso. Fisicamente, emocionalmente e financeiramente. Que vai enfrentar seus fantasmas, juntar forças sabe-se lá de onde e buscar aquele restinho de esperança que estava escondido em algum canto da alma. A gente já sabe que pode dar errado – afinal, já deu da outra vez – e imagina que está preparada para todos os nãos do caminho. “Dessa vez vai ser diferente. Eu não vou transformar cada ultrassom em um não. Eu não vou sofrer antes da aspiração dos óvulos porque sei que até lá tudo pode mudar. E nem depois, afinal, mesmo se eu tiver ótimos embriões pode ser que eles não evoluam até o quinto dia para poderem ser implantados. Eeeee se forem implantados pode ser que não fixem no meu endométrio. Então vou ficar fria até o dia do beta”. A gente se repete esse discurso mentalmente todos os dias. E também repete para as pessoas que nos amam e estão na torcida. Minimiza as conquistas (“são SÓ 3 óvulos, mas eu já sabia. Tenho má resposta ovariana”) e faz pouco caso das derrotas (“os 3 estavam maduros, mas apenas 2 fecundaram. Dos 2 apenas 1 chegou ao 2o dia. Dane-se!”). Mas no fundo, ali na hora do banho, escondidinha, a gente sente o coração sangrar. Porque não é tão simples assim. O que resta, hoje, é acreditar no bom e velho “se for pra ser, vai ser”. Porque definitivamente não está nas nossas mãos. E, assim como o único embrião restante, é preciso sobreviver até quinta.
07 de março de 2018
18h33. Meu coração parece querer pular para fora da boca. Não me ligaram hoje do laboratório. Me parece um ótimo sinal, pois a transferência do embrião, um blastocisto de 5 dias, está agendada para amanhã de manhã. Ou seja, se alguma coisa tivesse dado errado, teria me avisado. Amanhã, às 10h30, meu pré-bebê vai ser colocado na minha barriga. Começo a dar risada quando penso que quando meu filho perguntar como foi parar na barriga da mamãe, vou dizer “o médico colocou a sementinha lá dentro”, vou dizer. E não será mentira. Na sequência, rezo para esse sonho finalmente se realizar. Rezo. Porque não me resta mais nada a fazer. Tudo o que podia, eu fiz. E não está mais nas minhas mãos.
17 de março de 2018
O que tem que ser vai ser. É estranho imaginar como essa frase sempre fez sentido pra mim. Na escola, no trabalho, nas amizades, nos namoricos… mas na questão da maternidade ela não ecoava no meu peito. Não sei bem dizer por quê. O fantasma de nunca conseguir engravidar me assombrava e não me deixava ver com clareza o tal do “o que é seu está guardado” que minha mãe, pacientemente, sempre me repetiu.
Mas estava guardado. Depois de árduos sete anos, duas FIVs, uma inseminação artificial e mais uma FIV. Depois de visitar seis médicos diferentes – todos ginecologistas – e descobrir meu diagnóstico com um imunologista. Depois de muitas lágrimas escorridas até cansar, muito conforto vindo das pessoas amadas, muito desabafo aqui no site… ele chegou.
O meu tão sonhado positivo.
Sim.
Positivo.
P
O
S
I
T
I
V
O
Estou grávida.
Já escrevi e reescrevi esse post não sei quantas vezes e ainda acho que não encontrei a forma certa de dar essa notícia.
Eu, que ganho a vida escrevendo, não consigo explicar o que senti quando, tremendo, fiquei tentando entender com meu marido, amor da minha vida, que já enxugou tantas lágrimas nesses sete anos, o que aquele 86 na tela do computador significava.
Era o resultado do meu beta HCG. Eu e meu marido, prudentes depois de tanta dor bem vivida, perguntamos pro nosso médico e ligamos no laboratório. Tudo para ter certeza de que aquilo indicava, sim, um positivo.
Hoje, quase uma semana depois – e mais dois betas, para ter certeza de que o HCG continuava subindo – ainda parece que a ficha não caiu. Meus sintomas até agora? O coração sorri, mas também fica apertado – as estatísticas de perdas no primeiro trimestre de gravidez são assustadoras -, os olhos choram a cada ligação e a cada parabéns. E o útero se contrai muito. Se meus médicos não tivessem me tranquilizado, acharia que estava para menstruar, aliás. Mas não. E agora me pego acariciando a barriga e falando com ela o dia todo.
Uma das coisas que mais passava pela minha cabeça, todos os meses quando achava que estava grávida, era como daria a notícia para minha família e meus amigos. Já visualizei uma cena na ceia de Natal, já me vi subindo numa cadeira para contar durante o réveillon, já me enxerguei fazendo uma cartinha de dia dos pais para o meu pai escrevendo “oi, vovô”, já pensei em deixar o resultado do exame numa caixa de bombons na Páscoa.
Como a vida é cheia de surpresas, claro que nada disso aconteceu. E tive uma intuição assim, em cima da hora, com o resultado em mãos, de gravar um filminho (veja aqui: filminho diário – meu final feliz), com brinquedos que compramos – com o máximo de autocontrole possível – nesses sete anos de espera. Tinha que ser um vídeo, pois eu precisaria mandar por whatsapp pra grande parte das pessoas que eu amo – muitas moram longe, afinal. E foi assim que escrevi meu “final feliz”.
Todo mundo tem sua história para viver. Seus percalços, seus pequenos prazeres, seus aprendizados, suas dores. O diário da minha não-gravidez termina aqui com um alívio que parece me arrancar uma tonelada do peito e uma apreensão pelo que está por vir. Uma esperança ainda maior no amanhã, não só pelo meu neném, mas também pelos que ainda não chegaram para todas as meninas que ainda estão tentando ser mamães e sofrendo nessa dolorosa espera. Desejo força e acolhimento a todas e estou aqui para ajudar como puder. <3️
FIM!
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Queria aproveitar para agradecer as pessoas que me ajudaram a sobreviver neste período nada fácil, principalmente diante da incompreensão dos que diziam: “Aproveitem, depois dos filhos a vida fica difícil” ou então “Mas treinar é melhor que engravidar” ou, pior, “É por causa dessa neura que vocês não conseguem” ou ainda do olhar de pena de outros. E também quero abrir este espaço para você me contar sua história. E mostrar que você (ou vocês, como casal) não está sozinha nessa! Ah, e me conta também sua aventura com final feliz. Isso é a coisa que eu mais amo ouvir, sobre casais que passaram anos tentando, enfrentaram poucas e boas, e no final, deu tudo certo, na barriga ou no coração.