Está certo. Não tem como saber como eu seria se tivesse engravidado no primeiro ano de tentativas. E também não acho que sou uma mãe melhor que ninguém – até porque meu filho tem apenas sete meses e meu papel de mãe é muito recente. Mas sei ver claramente o quanto mudei ao longo dos sete anos em que lutei contra a infertilidade:
* Eu entendi o imponderável. Percebi que há coisas que podemos mudar – como o médico, a clínica de fertilidade, a visão sobre determinada questão – e outras que simplesmente não estão nas nossas mãos. Só nos resta confiar. Em Deus, na deusa, na natureza, no nosso corpo, na ciência, no acaso… e uma mãe entende isso a partir do momento em que o beta aparece positivo. Será que vai dobrar esse valor? Não faço ideia e não há nada que eu possa fazer a respeito. Será que vou ouvir os batimentos cardíacos no primeiro ultrassom? Idem. Será que esse sangramento é algo grave? Idem. Será que vai dar tudo certo no parto? Me preparei, estudei, meditei, fiz yoga, alongamento e caminhadas, mas, fora isso, definitivamente entendi que preciso me entregar ao imponderável.
*Eu aprendi a dar a valor ao que realmente importa. Depois de muito sofrer pensando que não poderia engravidar, escutei do meu marido: “Se você vai ser mãe eu não sei. Eu vou ser pai”. Simples, mas tudo o que eu precisava ouvir. Afinal, quem disse que para ser mãe é preciso engravidar? Era uma parte sensível do processo, sim, mas não a única. E foi quando resolvemos passar pelo processo de habilitação para adoção e isso tirou um grande peso das minhas costas. Depois, veio a gestação e várias coisas que eu certamente teria endeusado se tivesse engravidado de primeira: exame de sexagem fetal (eu particularmente preferi esperar o ultrassom), chá-revelação (acho muito íntimo), “saída de maternidade” (quem a gente pensa que é? A Kate Middleton, que é fotografada por jornais de todo o mundo quando sai da maternidade?), maquiagem para o parto (nada a ver comigo) e mais uma infinidade de etcéteras. Claramente não julgo quem opta por isso e, provavelmente, eu mesma teria escolhido algumas dessas coisas se tivesse engravidado rapidamente e nunca tivesse carregado a angústia da dúvida. Tudo ficou pequeno diante da notícia que eu tanto esperei e meu chá de bebê foi uma feijoada com amigos aqui no prédio. <3
*Eu compreendi que me cuidar era minha obrigação. Não me entregar para a tristeza, o desespero, a culpa… levantar todos os dias e colocar uma roupa, dar um jeito de sacudir a poeira, fazer uma aula de dança, dar uma volta no quarteirão, bater um papo com uma amiga, organizar uma viagem com meu marido… tudo o que pudesse espantar a tristeza valia. E isso não tinha nada a ver com o tenebroso “desencana que você engravida”, mas sim com a minha visão de que a vida devia continuar. Hoje em dia fico agoniada de ver tanta leitora falando sobre falta de vontade de viver devido à infertilidade. Gente, é MUITO importante não deixar a peteca cair, descobrindo um jeito de repor as energias que vão se esvaindo em todo esse processo de acredita-se-decepciona-acredita-mais-uma-vez-ainda-não-foi-esse-mês. Vocês sabem do que eu estou falando. E se rolar um positivo, estar bem para encarar a maternidade e o puerpério faz uma diferença enorme.
*Eu descobri que minha intuição é mais valiosa que eu imaginava: se não gostei da explicação de um médico, se não estou convencida do resultado de um exame, se estou insatisfeita com a falta de diagnóstico… preciso procurar outros caminhos. A intuição feminina é sagrada. Como mãe, isso me serve desde os motivos mais banais – é sono! Não, é fome! Agora é dor de barriga! – aos mais profundos, de uma conexão muito íntima e amorosa com o meu bebê. MAS, ATENÇÃO…
*Eu diferenciei medo de intuição. Minha terapeuta me falou isso muitas vezes: medo não é intuição! Mas foi só quando tive um sangramento na 13ª semana da gestação – aquela, em que a gente pensa “ufa, já passou o primeiro trimestre, agora posso relaxar” – que eu entendi que medo não é intuição. Fiquei apavorada, corri para o PS e vi que não era nada – apenas uma veiazinha da minha placenta que se rompeu e, como ela estava cobrindo o colo do útero, o sangue chegou a “vazar”. Enfim, evento banal em uma gestação. A lição se completou quando minha obstetra me deu um merecido e carinhoso puxão de orelha: “Você vai relaxar mesmo quando sentir o bebê mexer, lá pela 20ª semana. Mas se você realmente agir assim, vai ter deixado de curtir metade da sua gestação. É isso que você quer?”. Então, entendi que estava curada e que todo o sofrimento da minha luta contra a infertilidade tinha passado. Estava decidido: eu teria uma gestação tranquila e feliz, acreditando que tudo seria diferente dali pra frente. Confiando na minha intuição e no universo, sem medo. E essa lição, minhas queridas, não vou nem falar para vocês o quanto é útil depois que a gente vira mãe…
Foto: Flickr/Creative Commons
Shirlen 17 de julho de 2019
Amei seu post!!! Infelizmente, não testei, sou mãe por barriga solidária, então tentei curti ao máximo os pré-natais, mantive um fichário todo organizado, minha irmã fez um diário para mim de tudo que sentia fora do normal, curti a fase de montar o quarto, do enxoval, chá de bebê etc. E acredite!! Sempre aparece um palpiteiro sem noção para te fazer sentir menos mãe! Eu paguei um fotógrafo para registrar o parto, decorei o quarto da maternidade, eu, realmente, tentei curti todas as fases desse processo lindo, e para fechar com chave de ouro, fiz um Newborn do Samuel, meu bebê. Gestar, foi só um detalhe de todo o processo.
Pri Portugal 23 de agosto de 2019
Sua história é linda, Shirlen <3. Bjinho, Pri
Joyce 18 de julho de 2019
Que depoimento maravilhoso! Ainda não sou mãe, mas faço das suas palavras as minhas. A vida é um mistério e acreditar e aceitar q Deus é q está no controle de tudo e fará sempre o melhor pra tds seus filhos, é a minha força! Como seu marido disse, eu tbm tenho certeza q serei mãe, do coração ou do ventre, não importa o caminho, o importante é viver o planos de Deus! Eu aceito, confio e espero!!! s2