A solução para incompatibilidade genética, já que a vacina está proibida

Meninas, nas últimas semanas eu recebi dezenas de e-mails e comentários aqui no site perguntando sobre a “vacina” feita com o sangue do pai que era aplicada na mãe para impedir abortos espontâneos. Mas vou explicar por partes para quem não está familiarizada com o assunto.

Existe um exame chamado crossmatch por citometria de fluxo, que nasceu para verificar compatibilidade entre doadores de órgãos e receptores. O resultado mostra se o receptor aceitaria ou se seu organismo lutaria para se defender do órgão doado, descartando, então, transplantes, já com um risco concreto de darem errado.

O exame crossmatch é bem simples: quase-mamãe e quase-papai fazem um exame de sangue. A amostra de sangue do homem é misturada com as células de defesa da mulher e acompanha-se em laboratório o que acontece. Se o sangue dela tiver anticorpos específicos ao dele, quer dizer que seu corpo “lê” o material genético do pai como leria um vírus, por exemplo – resumindo grosseiramente. Ou seja, o corpo da mulher vê esse material genético como um inimigo e tenta expulsá-lo.

Agora, pense: se metade de um embrião é puro material genético do pai, o que acontece? O corpo da mãe “combate” esse embrião. Literalmente. Então qual foi a solução encontrada pela medicina há mais de 20 anos? Criar uma espécie de vacina com o sangue do pai. Afinal, as vacinas em geral são feitas com o próprio vírus que buscam combater, certo? O processo é parecido, por isso o medicamento ficou conhecido como “vacina feita com o sangue do pai” ou vacina antiaborto.

Por 20 anos (segundo essa reportagem da Folha), essa foi a solução encontrada para resolver essa incompatibilidade genética entre pai e mãe que levava a abortos repetidos, inclusive. Acontece que em 2016, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vetou os tratamentos com a vacina, alegando que não havia resultados comprovados e que havia risco de contaminação para a mulher.

A proibição é muito polêmica, porque se você for perguntar para o meu médico, por exemplo, ele vai saber citar de cor quantos casos de infertilidade e abortos espontâneos resolveu com a vacina. E os números se repetem mundo afora. Já ouvi de muitas leitoras que seus especialistas dizem que esse exame é ultrapassado e por isso não pedem. Em minha humilde opinião, quem faz um tratamento de fertilidade precisa tirar sangue pra tanta coisa que uma mera análise a mais não faria mal, mas… sem contar que quando tratei essa incompatibilidade, eu engravidei, então realmente sou suspeita em recomendar que você insista por esse exame. É seu direito.

Tem também a questão da contaminação, mas essa seria igualmente simples de resolver: bastaria fazer uma sorologia completa no pai e pronto. Afinal, doação de sangue acontece todos os dias por aí, não é? Seria só tomar os devidos cuidados. Mas vamos deixar essa polêmica para outra hora.

Visto que a vacina foi proibida em tratamentos, o que deve fazer quem identifica a incompatibilidade genética, então? Existe um tratamento, também usado no mundo todo, à base do medicamento Intralipid, aplicado na veia lentamente durante duas horas e com validade de dois meses. Ou seja, se você não engravidou nesse período, precisa voltar à clínica para aplicar nova dose.

O Intralipid não é a mesma coisa que a vacina, mas sim uma mistura de óleo de soja, gema de ovo, glicerina e água, normalmente utilizada como uma fonte de calorias e ácidos graxos essenciais para pacientes no pós-operatório e bebês prematuros que necessitam de nutrição. Essa mistura promete estabilizar as membranas das células, suprimindo certos componentes do sistema imunológico da mãe e protegendo o embrião de um “ataque” das células de defesa da mãe, que são chamadas de natural killers.

Então, meninas, principalmente quem ainda tem diagnóstico de ISCA (Infertilidade sem Causa Aparente), fiquem de olho e peçam seus médicos o exame de crossmatch. Caso a incompatibilidade e as células Natural Killers (NK) sejam identificadas, vale tentar a aplicação do Intralipid. Comigo deu certo ?

 

 

Foto: Flickr/ MamaYe Africa


7 thoughts on “A solução para incompatibilidade genética, já que a vacina está proibida

  1. Tereza Responder

    Olá Priscila!
    Obrigada pelo seu trabalho incrível. Me emociono a cada história e me incentivo a cada vitória!
    Estou fazendo o tratamento com intralipid já há alguns meses e ainda não consegui o meu positivo. Gostaria de saber sobre o tratamento com imunoglobulina humana, que parece também um pouco polêmica entre os medicos. Você teve que usar?

    1. Pri Portugal Responder

      Fico contente que se sinta acolhida aqui, Tereza. Eu, particularmente, fiz Intralipid 4 vezes (uma a cada dois meses, sendo a última antes de implantar, na FIV) e Imunoglobulina assim que tive meu positivo. E deu certo 🙂 Seu médico recomendou? Bjinho

  2. Fernanda Responder

    Oi Priscila.
    Vim te agradecer por dividir sua historia com nós.
    Graças a seu blog conheci o Dr. Ricardo Oliveira e não pensei 2 vezes em procura-lo.
    Meu caso ainda é muito recente, estou tentando engravidar faz 2 anos apenas ( tenho 34 anos) e nenhum sinal, nem atraso de menstruação nem nada, resolvi procurar uma medica de reprodução humana para ver se tinha algo, no começo amei e achei que seria a solução de tudo, ela me pediu os exames básicos e a histerossalpingografia. Todos os exames deram normais e fiz um coito programado sem sucesso( injeções, remédios e mta dor, o Dr. Ricardo acha que tive um hiper estimulo ).
    Mas meu coração me dizia que algo estava errado e que ela poderia pedir mais exames, comecei a procurar no Google li blogs e blogs e no seu e em outros descobri que existiam mais exames sim como os básicos de reserva ovariana e de trombofilia que ela nem me pediu.
    Depois do negativo do coito programado voltei na medica e perguntei se não tinha mais nenhum exame para que ela poderia me pedir e a resposta foi um Nãooo e um calma futura mãezinha está tudo certo com você e vamos fazer outro coito, falei que não ia fazer no momento pois estava de viagem marcada e que depois voltava lá.
    Sai já falando para o meu marido que não voltaria nessa medica que tem exames básicos que ela não pediu e que iria atrás de outro.
    Já tinha lid o seu blog e o relato do seu medico comecei a pesquisar mais sobre ele e pensei esse vai ser o meu medico tb.
    Não moro em São Paulo, mas minha família sim e aproveitei uma ida até lá e consegui marcar uma consulta com ele.
    Fiquei feliz com a consulta ( foi semana passada) ele me pediu diversos exames, ainda estou no aguardo dos resultados e mto confiante.
    Resolvi procurar o Dr. Ricardo antes mesmo de tentar uma outro tipo de tratamento e aconselho muitos as outras mulheres a fazerem isso.
    As vezes uma FIV nem é necessária como ele sempre fala.

    E mais uma vez obrigada por dividir sua historia e ajudar outras pessoas.

    1. Pri Portugal Responder

      Sou muito suspeita para falar dele e fico MUITO contente por vc ter ouvido sua intuição, se informado, procurado outros caminhos. Tenho certeza que vc chega ao seu diagnóstico e à sua cura, Fernanda! Na torcida por vc. Bjinho

      1. Fernanda Responder

        Oi Pri.
        Tenho que te agradecer novamente por ter escrito esse blog.
        Como escrevi no comentário a cima fui na consulta com o Dr. Ricardo.
        Meu processo foi bem mais fácil, em outubro consulta, novembro os diagnósticos, dezembro os tratamentos e depois de 2 anos e 4 meses tentando, no meu primeiro ciclo em janeiro tive meu positivo. Hoje estou de 13 semanas e sem acreditar ainda.
        Adoro contar minha historia e falar do anjo chamado DR. Ricardo Oliveira.
        Queria que mais pessoas soubessem dele antes de fazer mil tratamentos.

        Obrigada

        1. Pri Portugal Responder

          <3 <3 <3 Fer, topa escrever um depoimento pro site? Se sim, manda pro contato@cademeunenem.com.br. Vou adorar publicar! Bjinhos e muitas felicidades!

  3. […] eles, o que também corta meu coração. Lembro que quando fazia minhas aplicações de Intralipid (... cademeunenem.com.br/o-que-eu-quero-para-mulheres-que-desejam-engravidar

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