“Tinha uma endometriose atípica, fiz coito programado, inseminação, FIV e nunca consegui engravidar. Aos 41 anos, entrei na menopausa e aprendi a colocar na minha cabeça que dá para ser feliz sem filhos”

“Sempre quis muito ser mãe. Quando estava com 33 anos, ainda solteira, fui ao ginecologista e ele falou que eu estava entrando na pré-menopausa. Não acreditei e nunca mais voltei lá. Talvez se tivesse voltado, minha história teria sido diferente…

Comecei a namorar meu marido, aos 36 anos, e falei para ele que morria de medo de ter dificuldade de engravidar. Ele me sugeriu parar a pílula em 2008, e ainda nem éramos casados. Tentei naturalmente por dois anos, mas nada. Passei por uns quatro ginecologistas até descobrir a endometriose. Nunca tive problemas nos meus ciclos, nem cólica, nem excesso de sangramento. Ou seja, era uma endometriose atípica. Depois, fui a mais uns quatro até decidir passar pelo procedimento da laparoscopia, que queimava os focos de endometriose. A minha pegava inclusive o ovário.

Depois disso, fiquei mais ou menos um ano fazendo o coito programado. Nem sempre dava certo porque se a gente precisava viajar por alguma razão profissional, por exemplo, bem no dia D, era uma confusão e eu acabava ficando decepcionada.

Parti, então, para a inseminação artificial e me senti péssima: parece que os médicos só queriam meu dinheiro, porque não me deram garantia nenhuma. Na sequência, fizemos uma Fertilização in Vitro (FIV), que não deu certo porque meus folículos não amadureceram o suficiente. Foi horrível, a pior fase do mundo, porque todas as pessoas ao seu redor engravidam, né? A cada notícia dessas, meu mundo desabava, literalmente. Eu entrei em depressão, você se acha a pior pessoa do mundo. Meu marido segurou muito a barra. Eu achava que não era mulher suficiente para ele, me sentia inútil.

Em 2015, parei de tentar porque sofri muito, era uma angústia muito grande. Falei com meu marido e decidimos parar de nos cobrar filhos para poder ser felizes. A gota d’água foi quando meus cunhados engravidaram. Eu achei que já tinha superado essa minha dificuldade, mas caí num choro tão doído que decidi que não queria mais passar por isso. Foi muito complicado porque eu tenho mais três irmãs e todas são mães. A gente pensa que tudo vem com a genética, mas não.

Aos 41 anos, entrei na menopausa. O sofrimento ainda não passou, eu me controlo para pensar menos no assunto, mas ainda vivo altos e baixos. Acho que criei uma barreira com relação a crianças, não as quero perto de mim. Talvez seja uma autodefesa, mas aprendi a colocar na minha cabeça que dá para ser feliz sem filhos. E me repito isso todos os dias.

Ainda não penso em adoção porque não sei eu teria essa força para prosseguir, para enfrentar a espera e passar por tudo isso de novo. Minhas irmãs me falam que gravidez não faz de você uma mãe, que é quando você pega na mão e olha pra carinha do bebê que se sente uma. Eu acredito, tanto que sempre conversava com meu marido que primeiro eu queria engravidar – aquele sonho de ter barriga, sentir mexer, ter um parto natural – e que o próximo filho seria adotivo. Mas acredito que como eu não consegui engravidar, a adoção acabou não tendo mais espaço na minha vida.

Em todo esse processo, aprendi várias coisas e uma delas foi: não abra mão da sua vida profissional enquanto tenta engravidar. Eu larguei tudo, não dei continuidade aos estudos, não fiz uma pós-graduação… tudo para me dedicar a esta busca de ser mãe. Eu trabalhava como autônoma, fazia alguns bicos e assim seguia a minha vida. Quando desisti de tentar engravidar, voltei a buscar um espaço no mercado de trabalho, mas acabei ficando defasada profissionalmente. Aos 38 anos, perdi uma vaga de trabalho por causa da idade. Então, hoje eu percebo que não podemos deixar o tempo passar, porque ele passa muito rápido”.
Ana Paula Tosatto Martinez, 41 anos

 

*Se você ainda é nova neste universo e não entende bem o que é coito programado, inseminação artificial e FIV, clique nessas expressões no texto que você vai descobrir.


2 thoughts on ““Tinha uma endometriose atípica, fiz coito programado, inseminação, FIV e nunca consegui engravidar. Aos 41 anos, entrei na menopausa e aprendi a colocar na minha cabeça que dá para ser feliz sem filhos”

  1. Alberto Portugal Responder

    Maravilhoso! E lindo mesmo, porque eu conheço e acompanho as duas histórias, da entrevistada, que é minha melhor amiga, e da jornalista que é minha melhor irmã. Amo as duas e tenho orgulho enorme de estar com vocês na minha vida.

  2. Livy Responder

    nada como um dia após o outro… a gente acaba aprendendo a ser feliz com aquilo que Deus nos dá; mas é uma luta diária tentar ser feliz, isso eu sei…

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