Sempre comento com as leitoras que a investigação da infertilidade de um casal deve iniciar pelo homem, sobretudo com um espermograma com análise de fragmentação de DNA.

E aí elas encontram a resistência de grande parte dos homens. O porquê eu não sei. Afinal, falando um português bem claro, é bem mais fácil se masturbar que sofrer as intervenções que nós, mulheres, sofremos, como histeroscopia (muitas vezes com biópsia), histerossalpingografia e até um ultrassom transvaginal. Mas voltando ao diagnóstico de infertilidade masculina: ao analisar a produção espermática, é importante que vocês peçam ao médico a requisição de um espermograma com análise de fragmentação de DNA.

Mas o que esse exame com nome e sobrenome significa? Conversei com o dr. Nilo Frantz, da clínica Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, que funciona em São Paulo em parceria com a RDO, para entender melhor. “A avaliação diagnóstica masculina clássica compreende a realização de um exame denominado espermograma, constituído pela análise de diversos parâmetros espermáticos, dentre os quais a morfologia e a motilidade”, explica.

Mas esse é apenas o começo. “Os métodos moleculares diagnósticos evoluíram e, atualmente, sabemos que espermatozoides apresentando excelentes classificações em termos de morfologia e motilidade também podem ser responsáveis por falhas na fertilização in vitro ou por abortos, uma vez que estes parâmetros não nos permitem avaliar diretamente a qualidade do DNA dos espermatozoides”, diz. É aí que entra o espermograma com análise de fragmentação de DNA.

E como ele funciona? “Esse exame verifica a presença de quebras em cadeias simples ou duplas no DNA nuclear dos espermatozoides”, explica o dr. Nilo Frantz. Lembram da imagem de um DNA?

Essas cadeias apresentam “quebras” e não são como “deveriam” ser. E o que provoca a fragmentação do DNA? Aí é que complica! Porque são diversos fatores, como a própria varicocele, mas também uso de drogas, tabagismo, consumo de álcool, tratamentos de quimioterapia e radioterapia, utilização de determinados medicamentos, exposição a calor intenso, poluição e idade paterna. Entendeu por que é tão importante avaliar?

E se o resultado do espermograma com análise de fragmentação de DNA for “ruim”? “Com exceção à idade paterna, os fatores relacionados a altos índices de fragmentação podem ser modulados e garantir melhores resultados durante a FIV”, comenta o especialista. Ou seja, dá para melhorar e é fácil entender. Enquanto a mulher já nasce com seu estoque de óvulos, no homem os espermatozoides se formam na adolescência. E mais: eles se renovam a cada 78 dias, então é possível melhorar sua qualidade, com alimentação e suplementos vitamínicos. “Com isso, se conseguem melhoras até no embrião”, conclui o médico.

Fotos: Flickr/ Maria Mellor e Flickr/ Álvaro Ibáñez