“Comecei a tentar engravidar em 2011. Fui ao médico e fizemos vários exames. Estava tudo bem, então parei o anticoncepcional. O médico me orientou a tentar por um ano e, se não engravidasse, deveria voltar para um tratamento de fertilização.
Nesse meio tempo, comecei a ter muita dor e cólicas menstruais. Chegava a ficar o mês inteiro menstruada. Meu médico dizia que era normal. Eu sempre questionava e solicitava mais exames, mas ele achava besteira. Inconformada, me consultei com vários médicos. Em três deles a situação se repetiu.
Até que, em junho de 2015, passei muito mal na faculdade e desmaiei de dor. Meu marido me levou correndo até a emergência do hospital que era coberta pelo meu plano de saúde. Lá, descobri que tive um aborto espontâneo, mas como era muito desregulada nem cheguei a saber que estava grávida. Então, me medicaram e me deram alta.
Dois dias depois, passei mal de novo e, também no Pronto-Socorro, fiz uma ecografia transvaginal. A médica de plantão falou que eu tinha endometriose e me recomendou procurar um especialista. Ainda no mesmo dia fiquei com muitas dores. Quando voltei ao Pronto-Socorro descobri que não poderia ser internada porque meu plano não cobria mais aquele hospital.
Fui parar na emergência do SUS, onde fiquei quatro dias dormindo no chão porque não tinha vaga. Depois, fui transferida para outro hospital que é referência em endometriose, graças a Deus. Lá, fiz exames de sangue e ecografia transvaginal com preparo. Confirmei a endometriose.
Comecei o tratamento com anticoncepcional contínuo e fui encaminhada para um posto de saúde. Dois meses depois, consegui marcar consulta com o médico especialista e ele marcou a cirurgia para o início de 2016. Foi apenas nessa videolaparoscopia que eu descobri que tinha endometriose nível 4.
Fiz um novo tratamento, dessa vez com injeções e medicamentos que ganhei da farmácia do Estado. No final de 2016, fiz outra videolaparoscopia para ver como meu caso tinha evoluído. Estava tudo bem e o médico falou que eu estava apta a engravidar. Só que o exame de espermograma do marido deu uma alteração e acabei voltando ao anticoncepcional para que os focos de endometriose não retornassem.
Meu marido fez um tratamento, o espermograma melhorou e, desde junho desse ano, não estou mais tomando anticoncepcional. Estamos tentando engravidar naturalmente e eu mudei minha alimentação para uma dieta mais saudável. Eliminei o leite, comecei a ingerir mais frutas e legumes, e a tomar mais água. Isso ajudou diminuindo meu inchaço e minhas cólicas, e ainda perdi peso.
Ao longo desse período, também fiz uma cirurgia espiritual no centro espírita que frequento, que é de doutrina Kardec. Para escapar da tristeza, eu leio salmos da Bíblia. Também frequento sites e páginas do Facebook para mulheres que não conseguem engravidar e têm endometriose, escuto música e invento alguns pratos de comida. Cozinhar para a família é amor, né?
Hoje, tenho altos e baixos. Tem dias em que fico triste porque faço tudo conforme o médico fala e mesmo assim o positivo não vem. Além disso, vejo outras mulheres que ‘por descuido’ engravidam muito facilmente. Ao mesmo tempo, estou feliz, porque sei o que eu tenho, consegui fazer todo meu tratamento pelo SUS e tive sucesso.
São muitos questionamentos e sentimentos que se misturam, mas eu tenho o apoio incondicional do meu esposo. Além disso, o incentivo e as orientações do meu médico fazem toda a diferença para eu não desistir. E também tenho muita fé, o que faz toda a diferença nesse processo árduo.
Já tenho encaminhamento para passar por tratamento de reprodução humana assistida no SUS, mas temos que esperar. Estamos na luta e sei que em breve teremos novidades maravilhosas”.
Vanessa Nunes, 35 anos
*Foto: Flickr/欠我兩千塊