“A gente acha que é só com a gente. Minha irmã engravidou pela primeira vez e eu ainda estava solteira. Tinha terminado um namoro havia pouco tempo. Depois disso, eu comecei minha busca e agora ela engravidou de novo.
Sempre tive vontade de ter filhos, e até pensava que se não achasse um companheiro legal, eu teria sozinha. Já tinha até comentado com o meu pai que ia fazer uma produção independente. Desde pequena eu gostava muito de crianças.
Quando eu tive leucemia, aos 4 anos de idade, morava em uma cidade do interior do Paraná que não tinha tratamento especializado. Então, ia para Curitiba com minha mãe e deixava meus dois irmãos mais novos aqui. Eu tinha medo de fazer a coleta do líquido da coluna, mas de resto era tranquilo, eu fazia amizade com as outras crianças e com as enfermeiras. Não foi tão traumático como pode parecer.
Aos 7 anos, voltei para a minha cidade para poder estudar, mas a cada mês eu precisava ir pra Curitiba para fazer os controles da leucemia. Aos 15 anos, tive alta do hospital. Quando eu tinha 21 ou 22 anos escutei uma matéria no Fantástico que dizia que quem tinha tido problema com câncer poderia ter dificuldade para engravidar. Aí, fui falar com o meu médico e ele me perguntou se eu queria engravidar imediatamente. Falei que não e ele disse para eu procurá-lo quando decidisse e, então, faria os exames.
Na época do vestibular, eu queria fazer faculdade de Farmácia, mas não passei e acabei fazendo Pedagogia. Minha mãe disse que eu tinha jeito com crianças e me incentivou a fazer. Logo em seguida, a dona de uma pré-escola que estudava comigo me ofereceu um estágio. Me apaixonei na hora. Dei aula de educação infantil por 6 anos e depois fiz uma pós em psicopedagogia e comecei a atender no consultório crianças com dificuldade de aprendizagem. Às vezes eu penso: se eu não conseguir ter filhos, será que a minha missão aqui não é essa? Cuidar dessas crianças que sofrem, que têm dificuldade de aprendizagem?
A idade vai chegando e eu acabei conhecendo meu namorado. E olha que engraçado: eu acabei descobrindo que ele também teve leucemia quando era criança. Ele é dois anos mais novo que eu e, se duvidar, a gente até se cruzou nos corredores do hospital.
Outra coisa que temos em comum: ele é apaixonado por crianças e também tinha ouvido que o tratamento pra leucemia podia prejudicar a produção de esperma. Então, acabou fazendo um espermograma logo que a gente se conheceu. Ele veio me falar chorando que não era mais pra gente ficar junto porque ele não ia poder realizar meu maior sonho.
Nisso, completei 35 anos e voltei a pensar em engravidar. Fui me informar e ver se eu poderia. Antes mesmo de tentar, eu quis investigar. Na primeira consulta com uma especialista, ela me explicou todos os processos e me pediu o exame anti-mulleriano. O resultado deu 0,80, que é baixo. Ela me disse que eu não ia poder ter filhos e já queria fazer a inseminação o quanto antes. Foi insensível e deu até a entender que eu não poderia pagar o valor do tratamento. Fui desesperada pra casa, chorei muito, falei com a minha mãe e o meu namorado…
Resolvi voltar no meu médico inicial com todos os exames. Ele acredita que não tem muito a ver o resultado do antimulleriano com a quimioterapia que eu fiz. Fiquei com impressão de que nenhum médico tinha certeza se a quimioterapia atrapalha a produção de óvulos.
No meio dos exames que fiz, descobri que meus ovários são muito pequenos. Ele recomendou, então, que eu suspendesse a pílula por 4 meses e repetisse esse exame. Eu ainda não comecei a tentar, mas também não estou prevenindo uma gravidez. Quero fazer pelo menos uma fertilização in vitro para saber que eu tentei tudo.
Se não for pra eu engravidar, vou ver outro jeito. Por enquanto não penso em adoção, mas isso tudo é meio novo pra mim, porque aconteceu no fim do ano passado. Agora, estou começando a fazer um acompanhamento na acupuntura.
Sempre fico me perguntando: por que eu não posso ter o meu se eu cuido tanto dos filhos dos outros? O lado positivo disso tudo é que me aproximei muito da minha mãe: ela foi comigo a todos os médicos. Acho que nada é por acaso, mas estou me preparando para ver como isso tudo vai se resolver. Espero que meu final feliz seja ter um barrigão”.
Andressa Renaldini, 35 anos
Ema Nery 29 de maio de 2018
Oi Andressa, como ficou sua história em relação a gravidez?
Pri Portugal 4 de junho de 2018
oi, Ema, td bem? Conversei com a Andressa e ela me contou que seu namorado tem um probleminha na produção de espermatozoides, então eles passaram esse tempo investigando a saúde dele. Ela agora resolveu congelar óvulos para poderem tomar a decisão com calma, então deve começar os estímulos esse mês ainda 😉