“Tento engravidar desde maio de 2016. Você pode pensar ‘Ah, nem faz tanto tempo assim’, mas acredite… Para mim é uma eternidade! Quando conheci meu marido, eu tinha 19 anos e sempre falamos em ter filhos. Então, desde os 23 eu já queria tentar engravidar. Devia ser minha intuição. Eu menstruei aos 13 anos e desde o início sofria muito com cólicas, mas nem desconfiava de endometriose. Tinha até que ir para o hospital. Aos 14, já comecei a tomar anticoncepcional contínuo para evitar as menstruações e, assim, as dores. Mas quando não estava namorando, parava a pílula. Era sempre a mesma novela: o dia em que minha menstruação vinha, eu tinha que ficar em casa tomando remédios e com bolsa térmica na barriga.
Com o tempo, um novo sintoma surgiu: dor para evacuar apenas quando estava menstruada. Relatei para o meu gineco na época e ele disse que era normal (PASMEM!), que se a dor era só na menstruação, tudo bem. Mas as dores pioravam e a simples vontade de ir ao banheiro me paralisava. Comecei, então, a pesquisar no ‘Dr. Google’ e só achava a mesma coisa: endometriose. Fui a quatro ginecologistas já dizendo o que eu achava. Eles não levavam a sério ou pediam exames imprecisos, como o CA 125 e a transvaginal, onde não aparecia nada. Meu problema foi tratado como nada importante.
Foi apenas o quarto médico que me diagnosticou depois de pedir uma videolaparoscopia. Isso em 2013, quando eu já tinha 25 anos. Constatamos que eu tinha focos de endometriose no peritônio e no ligamento útero-sacro esquerdo. Retirados todos, fiz uso de um medicamento por um ano e de anticoncepcional contínuo por mais um, até tentar engravidar.
Acredito que o fato de saber da endometriose fez com que eu quisesse engravidar cedo, pois eu tinha sempre uma incerteza: ela havia afetado a minha fertilidade ou não? Talvez se eu não soubesse de nenhum fator que comprometesse minha capacidade de engravidar, iria querer só após os 30, para estar mais firmada na minha carreira e financeiramente, já tendo minha casa e os bens materiais que todo casal sonha em conquistar antes de ter seus filhos.
Mas como a ansiedade para descobrir se sou ou não fértil sempre ficou martelando na minha cabeça, convenci meu marido a começar a tentar antes. Em seis meses, nada. Já comecei a me preocupar. Não sei se era meu inconsciente que me alertava que deveria investigar mais ou se era só a ansiedade, mas fiz meu médico pedir um espermograma para o meu marido.
Ele fez em novembro e à primeira vista achei o exame bom até demais! Quantidade acima da média, motilidade bem maior que a referência… Lindo! Mas quando olhei o final da página, dizia: korfologia de Kruger: 1%. Não podia ser verdade! De tudo que ele produzia, só 1% tinha o formato ideal para ser fertilizado! Já me desesperei e marquei direto com uma especialista em reprodução humana e fomos nos consultar em janeiro desse ano.
Era uma médica super humana, que explicou que a morfologia era ruim, mas a quantidade e a motilidade espermática compensavam. Apenas essa questão não seria impeditiva de uma gravidez natural. Mencionei a ela que além do meu histórico de endometriose já tinha tido HPV no início do namoro com meu esposo e ela me pediu exames de sangue de rotina. Foi quando descobri que eu tinha tido contato com clamídia e ela ainda estava ativa. Fui pesquisar e li que a clamídia pode danificar e obstruir as trompas. Entrei em pânico! Como é uma doença silenciosa, temia que ela já tivesse feito um grande estrago.
Tive que fazer a temida histerossalpingografia para ver se houve sequelas nas minhas trompas. Ao final, o médico disse que na trompa esquerda não passou nada do contraste, sinal de obstrução, e que na da direita passou, mas lentamente e em menor quantidade que o normal, e que poderiam ser aderências que dificultavam a passagem. Considerando que a trompa direita não estava totalmente obstruída, ainda teria alguma chance de engravidar por ela, então minha médica sugeriu que eu fizesse um mapeamento de endometriose pra ver minha situação e que, se não engravidasse naturalmente, apenas a FIV seria a solução.
Fui fazer meu mapeamento em maio deste ano, e apareceu um foco de adenomiose*. Consultei um especialista em endometriose e ele disse que eu poderia fazer uma nova videolaparoscopia para tentar desobstruir as trompas, uma histeroscopia para investigar melhor meu útero e o exame antimulleriano. Este último não deu um bom resultado (foi 0,58). E isso pode atrapalhar a FIV, pois já se espera que eu vá produzir poucos óvulos.
Nesse meio tempo também consultei uma endocrinologista que solicitou diversos exames. Ela descobriu minha deficiência na vitamina D, que também interfere na fertilidade. Agora estou tomando vitaminas B, C, D e E e Omega 3, além do ácido fólico. Já fiz acupuntura, tomei florais, faço psicoterapia pra ajudar com a angústia e a ansiedade e venho tomando um antidepressivo que os médicos disseram ser seguro caso eu engravide. Quero parar o quanto antes, mas nesse momento ainda não posso.
Por quê, meu Deus? Eu sempre quis ter um bebê, trabalho com crianças, sou apaixonada por elas. Tenho o sonho de ver meu barrigão, sentir mexer, me sentir a grávida mais linda do mundo, ver meu bebê nascer, criar meu filho, ter uma família. Mas isso tem sido uma luta. Em um ano e quatro meses de tentativas foram tantas dificuldades que parece que faz uma década. No fundo, todo mês eu acho que esse pesadelo vai acabar, que eu vou ver meu positivo e ficar aliviada. Mas todo mês é um choque de realidade quando a menstruação vem.
Meu casamento já passou por altos e baixos. Meu marido achava que eu me preocupava à toa. Agora, ele está mais consciente, mas para o homem não é tão dolorido. Para ele, se a gente não conseguir é só adotar e pronto. Já eu quero esgotar as chances de engravidar. Agora, estou me preparando para a primeira FIV, que possivelmente será em novembro. Mas a esperança de que até o último ciclo antes da fertilização eu engravide espontaneamente continua acesa no meu coração, embora minha cabeça diga que infelizmente meu final feliz ainda não está tão fácil de se alcançar assim”.
Letícia, 29 anos
* A adenomiose, resumidamente, é uma invasão de endométrio (tecido que reveste internamente o útero) na musculatura do útero (miométrio).
**A Letícia não quer revelar sua identidade, mas tem um perfil bem bacana no Instagram, o @ansiosamente.tentante. Vale a pena seguir.
***Foto: Flickr/jinterwas