Empatia é algo muito difícil de se conquistar. Hoje o depoimento é meu e acho que vocês vão me entender. Sabe quando alguém desabafa sobre um problema e você, na hora, tende a pensar que esse sofrimento é bobagem, afinal, “tem gente com problemas bem maiores por aí”?. Isso é falta de empatia. Entender as dores do outro é artigo raro hoje em dia, em que estamos todos sempre prontos a julgar e minimizar os problemas alheios em detrimento aos nossos.
Quando alguém está em depressão “sem um gatilho aparente” e você diz: “mas veja a fulana, que teve câncer”. Se alguém chora porque terminou o namoro e você diz: “e a sicrana? Traída depois de 10 anos de casamento!”. Ou pior: quando acha suas dores maiores que as dos outros. Tudo isso é falta de empatia.
Empatia é ouvir, compreender a dor do outro, tentar se colocar no lugar. É imaginar o sofrimento que ele está passando e, se não tiver nada melhor para dizer, apenas abraçar ou convidar para um chá quentinho é um bom começo. Essa cena do filme “Pequena Miss Sunshine” que escolhi para abrir o post, pra mim, define bem a empatia. Se você ainda não assistiu, assista!
É claro que quando você encontra alguém que sangra das mesmas feridas, fica mais fácil de se sentir entendida e acolhida, mas não precisa ser assim. Quando estou triste, por exemplo, gosto particularmente de falar com uma amiga que nunca pensou em ter filhos e certamente não sente essa angústia de não conseguir engravidar – talvez nunca sinta. Mas ela sabe dizer: “que bosta! Eu não entendo porque isso acontece com você, mas entendo seu sofrimento”. Pronto. Muitas vezes é só o que eu quero ouvir (ou ler hehehe).
Mas não nego que seja um exercício difícil, principalmente se a pessoa tem uma criação (ou personalidade) muito diferente da sua. Se o que para você seria alegria, para ela é tristeza, acaba ficando complicado se colocar no lugar. Mas temos que experimentar, sabe? Esse deveria ser nossa tarefa diária.
Uma noção real
Esses tempos, conversando com uma médica pelo Facebook, perguntei a opinião dela sobre a forma como a fertilidade é tratada no Brasil, seja por médicos particulares – muitos deles sem nenhuma sensibilidade –, seja por planos de saúde ou pelo governo/SUS. Pedi também uma força para divulgar o Cadê Meu Neném? e mandei para ela* o link do site. Em sua resposta, ela me disse que entendia minha dor. Mas completou: “quem quer ‘neném’ tem que fazer pedagogia ou magistério e ir trabalhar no berçário ou estudar medicina e ir fazer neonatologia. Filho não é um ‘neném’. E pra quem quer tanto, estuda tanto e investe tanto você já deveria ter uma noção mais real do que significa ser mãe”.
A princípio achei normal, porque já li/ouvi muitas vezes lições de moral disfarçadas de empatia. Tem quem diz que entende, mas que a gente precisa se conformar em não ter filhos, tem quem aconselha “relaxar”. Muita gente acha que quem deseja engravidar não tem noção da maternidade real e é uma bobinha sonhando com um mundo de fantasia. Tem quem ainda tente te mostrar o “lado ruim” de ser mãe para te dissuadir da ideia ou até consolar, vai saber… Mas, definitivamente, ignorar ou minimizar nossas dores, não é o caminho.
Engravidar não é final feliz, não é conto de fadas, não é comprar uma boneca, não é o mesmo que ser mãe de pet. E eu tenho certeza que nós, que todos os meses – com a visita indesejada da menstruação – pensamos sobre o assunto, temos muito mais consciência disso do que quem engravidou “de primeira” ou até “sem planejar”. Ao ver todas as amigas engravidando e parindo, temos uma noção muito mais clara das dificuldades do parto e dos primeiros meses do bebê, das noites sem dormir, da nova vida que temos como responsabilidade cuidar, sustentar e, mais difícil, educar.
A questão é que este conhecimento não serve para nos dissuadir. Essa consciência não nos faz desistir. E não somos pessoas alienadas por isso. Então, em um esforço de empatia, tentei explicar meu ponto de vista sem ofendê-la:
“Eu tenho uma noção bem real, mas quem quer filho e não quer um neném adota direto uma criança maiorzinha. Para muitas mulheres, a questão é mesmo viver o processo desde o começo e sentir tudo o que uma gestação representa, com suas dores e delícias. Com uma transformação física, emocional e até espiritual com um serzinho. E aí quer mesmo um neném, e a possibilidade de ter um filho maiorzinho não aplaca essa angústia, eu garanto. Até porque, quando você tenta há muito tempo, todas as suas amigas já têm um neném e você pode ‘brincar’ com eles. Sem contar a culpa (sim) e a vergonha (acredite) por não ‘ser uma mulher completa’ devido a essa impossibilidade. E isso piora quando o diagnóstico não vem. É realmente bem aflitivo”.
Mas desde que enviei essa resposta, hoje cedinho, o assunto não me sai da cabeça. Vocês já sentiram esse tipo de preconceito, meninas? Ou acham que eu estou exagerando?
*Não vou dizer aqui quem foi, pois essa foi uma conversa privada e não pedi sua autorização para divulgá-la. Quis apenas usar esse chat para exemplificar uma opinião que tenho construído ao longo do tempo.
3 thoughts on “Mais amor (e empatia) com quem deseja engravidar, por favor”