17 de março de 2018

Querido diário, o que tem que ser vai ser. É estranho imaginar como essa frase sempre fez sentido pra mim. Na escola, no trabalho, nas amizades, nos namoricos… mas na questão da maternidade ela não ecoava no meu peito. Não sei bem dizer por quê. O fantasma de nunca conseguir engravidar me assombrava e não me deixava ver com clareza o tal do “o que é seu está guardado” que minha mãe, pacientemente, sempre me repetiu.

Mas estava guardado. Depois de árduos sete anos, duas FIVs, uma inseminação artificial e mais uma FIV. Depois de visitar seis médicos diferentes – todos ginecologistas – e descobrir meu diagnóstico com um imunologista. Depois de muitas lágrimas escorridas até cansar, muito conforto vindo das pessoas amadas, muito desabafo aqui no site… ele chegou.

O meu tão sonhado positivo.

Sim.

Positivo.
P
O
S
I
T
I
V
O

Estou grávida.

Já escrevi e reescrevi esse post não sei quantas vezes e ainda acho que não encontrei a forma certa de dar essa notícia. Eu, que ganho a vida escrevendo, não consigo explicar o que senti quando, tremendo, fiquei tentando entender com meu marido, amor da minha vida, que já enxugou tantas lágrimas nesses sete anos, o que aquele 86 na tela do computador significava.

Era o resultado do meu beta HCG. Eu e meu marido, prudentes depois de tanta dor bem vivida, perguntamos pro nosso médico e ligamos no laboratório. Tudo para ter certeza de que aquilo indicava, sim, um positivo.

Hoje, quase uma semana depois – e mais dois betas, para ter certeza de que o HCG continuava subindo – ainda parece que a ficha não caiu. Meus sintomas até agora? O coração sorri, mas também fica apertado – as estatísticas de perdas no primeiro trimestre de gravidez são assustadoras -, os olhos choram a cada ligação e a cada parabéns. E o útero se contrai muito. Se meus médicos não tivessem me tranquilizado, acharia que estava para menstruar, aliás. Mas não. E agora me pego acariciando a barriga e falando com ela o dia todo.

Uma das coisas que mais passava pela minha cabeça, todos os meses quando achava que estava grávida, era como daria a notícia para minha família e meus amigos. Já visualizei uma cena na ceia de Natal, já me vi subindo numa cadeira para contar durante o réveillon, já me enxerguei fazendo uma cartinha de dia dos pais para o meu pai escrevendo “oi, vovô”, já pensei em deixar o resultado do exame numa caixa de bombons na Páscoa.

Como a vida é cheia de surpresas, claro que nada disso aconteceu. E tive uma intuição assim, em cima da hora, com o resultado em mãos, de gravar um filminho, com brinquedos que compramos – com o máximo de autocontrole possível – nesses sete anos de espera. Tinha que ser um vídeo, pois eu precisaria mandar por whatsapp pra grande parte das pessoas que eu amo – muitas moram longe, afinal. E foi assim que escrevi meu “final feliz”.

filminho diário – meu final feliz

(precisa clicar para assistir)

Todo mundo tem sua história para viver. Seus percalços, seus pequenos prazeres, seus aprendizados, suas dores. O diário da minha não-gravidez termina aqui com um alívio que parece me arrancar uma tonelada do peito e uma apreensão pelo que está por vir. Uma esperança ainda maior no amanhã, não só pelo meu neném, mas também pelos que ainda não chegaram para todas as meninas que ainda estão tentando ser mamães e sofrendo nessa dolorosa espera. Desejo força e acolhimento a todas e estou aqui para ajudar como puder. <3️

***

Se você tem acompanhado o Cadê vai notar que esse post está bem atrasado. Mas achei válido dividir o episódio do diário de hoje porque você pode estar vivendo esse momento e se identificar com alguém que passa pela mesma situação é sempre reconfortante. Mas se quiser acompanhar a história toda no diáro, com começo, meio e fim, clique aqui.

Ah, e se tiver uma história para me contar, me procure na página do Cadê no Facebook, clicando aqui.


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