Quais são as principais causas da infertilidade masculina? Quais são os tratamentos disponíveis? Vasectomia é reversível? Nós já falamos sobre isso aqui, mas não custa lembrar: a infertilidade é uma questão do casal, então não adianta você fazer mil exames e tratamentos se o seu parceiro não for investigado também. Então, entrevistamos o dr. Lister Salgueiro*, médico andrologista e especialista em Reprodução Assistida, para resolver nossas principais dúvidas a respeito:
Cadê Meu Neném?: Qual é a causa mais comum da infertilidade masculina?
Lister Salgueiro: A causa mais comum é a varicocele. Para entender melhor: “varicos” significa veias e “cele”, bolsa escrotal. Ou seja, são varizes na bolsa escrotal.
CMN: E como isso atrapalha?
Lister: A dilatação das veias causa uma parada no sangue, aumentando a temperatura e intoxicando os testículos. Isso leva à diminuição da produção de espermatozoides e de testosterona, o que resulta em infertilidade masculina.
CMN: Existem outras causas?
Lister: Sim. São mais de 60. Vão desde cirurgias feitas anteriormente, tratamentos como quimioterapia e radioterapia, ingestão de alguns medicamentos, traumas e infecções locais até causas genéticas.
CMN: Quais exames detectam a infertilidade masculina?
Lister: Inicialmente, um espermograma, exames (de sangue) para medir dosagens hormonais, uma ultrassonografia da bolsa escrotal e uma cultura de sêmen podem avaliar o quadro. Outros exames podem ser solicitados se necessário.
CMN: Quais são os diagnósticos mais comuns?
Lister: O mais comum é de oligoastenoteratospermia. Mais uma vez, para entender: “oligo” significa pouco, “asteno” quer dizer diminuição da motilidade e “terato”, malformação do espermatozoide. Já a azoospermia (ou ausência de espermatozoides no material ejaculado) ocorre em cerca de 10% dos casos.
CMN: Quais os tratamentos disponíveis para infertilidade masculina?
Lister: Existem tratamentos clínicos com medicações, cirúrgicos e de reprodução assistida.
CMN: Existem dietas, mudanças no estilo de vida ou suplementação vitamínica que podem ajudar o homem a produzir mais espermatozoides? Ou mais velozes? Ou num formato melhor?
Lister: Não existe alimento ou produto específico que cause grandes mudanças no sêmen. Mas existem formulações que contêm substâncias que colaboram com a melhoria do sêmen. Ou seja, ajudam um pouco a melhorar, mas não resolvem. Utilizamos uma fórmula de medicamento manipulado nestes casos.
CMN: Homens obesos (ou fumantes ou cardíacos) têm mais chances de ter problemas de infertilidade?
Lister: Sim a obesidade e o fumo alteram a produção espermática, seja pelo calor na região genital, seja pela gordura, seja pelo efeito do fumo. Pacientes cardíacos costumam tomar medicações que podem afetar a produção de espermatozoides. Além disso, uma das alterações causadas por estresse é a fragmentação do DNA do espermatozoide, que prejudica a fecundação ou contribui para a formação de embriões de baixa qualidade. Por isso, uma mudança nos hábitos de vida pode melhorar a fertilidade.
CMN: Poderia explicar a morfologia de Kruger, um dado que aparece no espermograma e é difícil de entender?
Lister: Quando avaliamos o espermograma fazemos uma classificação subjetiva do formato dos espermas. Formas alteradas têm menos chance de fecundar um óvulo. Existem dois critérios para avaliação. Um, mais simples, é da Organização Mundial da Saúde (OMS). O outro foi criado pelo professor Thinnus Kruger, da África do Sul, que é mais restrito. Fui treinado pelo próprio Dr. Kruger para realizar este exame. No início, o critério era mais de 14% de formas normais nos espermatozoides. Atualmente é acima de 4%.
CMN: Quando o homem se operou para não ter mais filhos, existe a possibilidade de reverter a vasectomia? Como funciona?
Lister: Existe, mas não é garantida. Indicamos a microcirurgia de recanalização quando o tempo de vasectomia é inferior a seis anos e a esposa tem menos de 35 anos. Com a vasectomia, os espermatozoides produzidos apenas não saem na ejaculação: eles são absorvidos pelo corpo.
CMN: Então ele não deixa de produzir?
Lister: Não, mas como os espermatozoides só aparecem no homem durante a puberdade (e não desde o nascimento, como a mulher e os óvulos), o corpo pode parar de reconhecê-los como células que são parte sua e cria anticorpos contra eles. Desse modo, às vezes, a reversão pode ter sucesso, mas os espermatozoides que saem são mortos ou inativados.
*O dr. Lister Salgueiro é diretor clínico e sócio-proprietário da ‘Clínica Fértilis de Medicina Reprodutiva’ em Sorocaba (SP). Para visitar o site dele, clique aqui.
Fotos: Flickr/ Mick C e Divulgação
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