“Foram 18 anos tentando engravidar e diagnósticos de varicocele, endometriose, pólipo no útero, trompa obstruída… não sei como consegui seguir adiante”

“Quando me casei, em dezembro de 1984, eu achava que era cedo para ter um bebê, mas como meu marido tinha essa vontade, resolvi parar com o anticoncepcional. O tempo foi passando… e nada. Mal sabia que levaria 18 anos tentando engravidar. Resolvemos procurar um médico e ele não soube explicar o que estava acontecendo. Fiz alguns exames e não apresentava nenhuma anormalidade. Decidimos, então, entregar nas mãos de Deus e nos dedicar aos estudos e ao trabalho. Comecei a cursar o 2º grau, pois tinha me casado muito jovem, mas o vazio que no início parecia imperceptível foi se tornando cada vez maior. Apenas tentávamos disfarçar o nosso desejo de ter um bebê para não nos machucar.

De repente, soube que minha cunhada mais chegada estava grávida. Fiquei feliz por ela, claro, mas queria que acontecesse comigo também. Resolvi ajudá-la em tudo porque ela também era muito jovem e precisaria de muito apoio. Nos ocupamos bastante do nosso sobrinho, tanto eu como Eliézer, ele parecia nosso filho e nos adorava. Anos depois, meu irmão mais novo teve sua primeira filha e a amávamos muito. Parece egoísta o que eu estou escrevendo, mas só quem passa pelo que eu passei sabe o quanto é difícil você ver as pessoas que estão à sua volta terem filhos e só você não. Um sentimento de incapacidade tomou conta de nós.

Resolvemos, então, pagar um plano de saúde para tentar um tratamento mais sério. Fui a outro médico, que pediu vários exames, alguns deles bem doloridos, mas nada de errado foi encontrado. O Eliézer também fez novos exames e, como ele sentia dores na região da virilha, o médico constatou que ele tinha varicocele e decidiu operá-lo para evitar transtornos futuros.

Pensamos que depois da cirurgia ele estaria curado e nosso bebê, enfim, iria chegar. Até que um dia, o próprio médico nos desenganou e disse que não sabia mais o que fazer. Decidi fazer um curso de Administração de Empresas na faculdade. Aparentemente, tudo ia bem: eu ia me formar, conhecer pessoas novas, quem sabe procurar um emprego… eu nunca tinha trabalhado fora e isso seria uma conquista! Mas o vazio ainda estava lá, me angustiando.

Assim que acabei a faculdade, enviei meu currículo para uma empresa de transportes e consegui a vaga. A empresa ofereci plano de saúde e foi o que me possibilitou retomar os tratamentos. Fiquei sabendo de um médico muito bom na área de infertilidade e ele me passou vários exames. De novo, nada de errado comigo. Mas ele achou que eu poderia ter algum problema porque contei que sempre sentia muitas cólicas quando minha menstruação vinha. Então, me sugeriu fazer uma videolaparoscopia. Foi quando ele desvendou meu diagnóstico: era endometriose.

Comecei a pesquisar sobre essa doença em livros, revistas e na internet. Às vezes eu me perguntava se era esse o problema que não me deixava ter um bebê. Depois de tantos desalentos, resolvi voltar ao primeiro médico, aquele que me desenganou. Soube que ele tinha se tornado um especialista em endometriose. Tive que fazer um exame muito ruim, chamado videohisteroscopia, onde vi que minha trompa esquerda estava obstruída e tinha um pólipo no colo do meu útero, que era uma espécie de tumor benigno. O médico que o que poderia estar me impedindo de engravidar seria aquele pólipo. Ele me sugeriu também fazer um tratamento com medicamentos para a endometriose, o que me tomou mais uns dois anos.

E ainda assim, nada do bebê. Aí, acabei fazendo outros exames e constatei que precisaria fazer uma cirurgia para reconstruir minha trompa esquerda. Às vezes não entendo como conseguia seguir adiante, só Jesus para me impulsionar. Acabei procurando uma médica muito conceituada na hora, que nos recomendou uma inseminação artificial.

Novamente perdemos o nosso tempo. Foi um período muito difícil. Apostamos tudo nisso: precisamos até vender nosso carro porque não dava para cobrir o tratamento. O período em que eu estava esperando o resultado foi horrível. Tive uma sensação de que algo estava sendo arrancado de mim.

Quando vi o resultado negativo do exame, coloquei óculos escuros para ninguém ver que eu estava chorando. Foi quando fui para o meu quarto e comecei a gritar. Eu perguntava a Deus o porquê de tanto sofrimento. Eu não conseguia entender.

Um dia, comecei a navegar na internet, como sempre fazia, procurando médicos na área de reprodução e acabei indo a um novo profissional. Ele examinou todo o nosso histórico médico e deu seu parecer: ‘pelo que vi, a senhora vai ter que se submeter a uma nova cirurgia. Talvez a gente tenha que abrir a sua barriga porque o ginecologista que fez seu último procedimento tirou um pedaço da sua trompa e fez uma amputação’. Eu lembro muito bem dessas palavras, aquilo doeu dentro da minha alma e eu comecei a chorar. Quando saímos do consultório, parecia que estávamos sem chão. Resolvi entrar em contato com o ginecologista que tinha me operado. Ele ficou perplexo e descobriu que o médico que tinha falado isso era um charlatão. Não tinha nem licença para operar.

Certa vez, no trabalho, fiquei muito aflita e comecei a chorar diante de um colega. Acabei desabando. Ele me deu o telefone de uma clínica de reprodução. Liguei lá e a consulta estava bem acessível. Apresentei todo o histórico para o novo médico, que me sugeriu fazer uma ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides) porque eu já tinha passado por vários procedimentos traumáticos e pelo meu desgaste emocional. Segundo ele, as chances de sucesso eram maiores. A essa altura eu já estava com 37 anos e estava há 18 anos tentando engravidar.

Adquiri os medicamentos da ICSI, que por sinal eram bem caros. Comecei a induzir a ovulação, com injeções e mais injeções de hormônios. Fizemos a aspiração dos óvulos e a retirada do sêmen do meu marido. Lembro até quando médico ligou para contar que o embrião tinha se desenvolvido: ‘Rosana, seu bebê está te aguardando’. Eu senti muito a presença de Deus e tive uma visão do meu filho mamando no meu peito.

Mas o médico me disse que enquanto o embrião não se implantasse no meu útero, eu deveria ter alguns cuidados e repousar muito. Eu ainda teria que esperar 15 dias para saber se estava grávida ou não. Parecia uma eternidade. Não queira nem saber como é difícil controlar a ansiedade depois de 18 anos tentando engravidar. Finalmente, fomos pegar o resultado do exame Beta. Nem tivemos coragem de abrir na hora. Fomos para o carro, pois não sabíamos como reagiríamos. Abrimos o envelope, lemos e… o pior: não entendemos muito bem. Liguei, então, para o dr. João, e ele disse: ‘parabéns, Rosana e Eliézer: vocês estão grávidos’. Era o meu Matheus, o meu presente de Deus. Nem sei explicar nossa reação. Não sabia se gritava, se chorava, se saía correndo… mas eu precisei me controlar porque, finalmente, estava grávida”.

 

Rosana Rosa, 50 anos, é mãe do Matheus, de 13 anos, e conta sua história no livro “A mão que embala o sonho”.


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