“Quando resolvi tentar engravidar, em 2006, descobri um mioma enorme, de quase 10 centímetros de diâmetro, do meu útero. E fiz uma cirurgia para retirar. Passamos dois anos tentando, sem sucesso. Em novembro de 2008, com orientação médica, comecei a induzir a ovulação. Lá se foram seis ciclos sem sucesso nenhum e eu nem desconfiava que poderia ter ainda pólipos no útero. A menstruação atrasava e me fazia acreditar que seria naquele mês, mas nada. Ela sempre acabava vindo.
Meu ginecologista, então, falou que tinha feito o que estava ao alcance dele e que o problema era nossa ansiedade. Indicou que procurássemos uma clínica de reprodução assistida. Com o dinheiro meio curto para procurar uma clínica particular, comecei a vasculhar a internet em busca do meu tratamento. Até que finalmente encontrei a Fundação ABC e me inscrevi em uma palestra.
Nessa palestra, eles nos informaram as diferenças entre uma FIV e uma inseminação e nos passaram uma lista gigantesca de exames. Fiz até a temida histerossalpingografia, mas não senti absolutamente nada. Nessa lista de exames, descobri pólipos no útero e também vimos que os espermatozoides do meu marido não eram todos sadios. Alguns ‘rodavam’ em vez de nadar.
Lá fui eu novamente para a sala de cirurgia. Com a videolaparoscopia, retirei os pólipos e partimos para a inseminação artificial. Até então, já tinha colocado na minha cabeça que seria bem difícil a gravidez e só conseguiria com uma FIV. Na verdade, sei lá de onde eu tirei essa ideia. Em novembro de 2009, fizemos nossa primeira inseminação artificial e nada. Veio a segunda, e nada. A terceira, e nada. Quanta tristeza, quanta desesperança.
Eu seguia nos tratamentos só para cumprir as exigências familiares. Estava totalmente desesperançosa e triste. Todo mundo engravidava, menos a Monica e o Paulo. Por que tanto sofrimento? Tanta espera? Tanta angústia? Tantas lágrimas? Não foi nada fácil ver as pessoas tendo um filho, depois outro, enquanto a gente… Me sentia desamparada e esquecida por Deus. Pensava que não merecia essa benção.
Em maio, demos entrada num apartamento, afinal já tínhamos o valor da medicação para mais três tentativas de FIV e eu sabia que desistiria depois disso. Mas sempre pensávamos que só faltava o nosso filhinho em nossas vidas. Nossa primeira FIV aconteceu em março de 2010. Mais injeções na barriga (que o meu marido aplicava) e muitas espinhas. Tudo o que eu queria era ter um monte de folículos, para poder escolher e conseguir meu bebê.
No dia 02 de abril, no ultrassom, vi que eu tinha quatro folículos bons, um médio e um pequeno. Dia 05, fui fazer a punção. Tomei a anestesia e meu médico conseguiu aspirar apenas três óvulos. Foi quando aprendi que nem sempre dentro de um folículo tem óvulo. Dois dias depois, às 8h30, me ligaram para fazer a transferência naquele dia mesmo. Larguei o serviço do jeito que estava e fui. ‘Se estão me ligando é porque têm algo para transferir’, pensei.
A transferência foi muito tranquila, de dois óvulos se formaram dois embriões, um B e um C, um com três células e um com quatro. Não sei bem o que isso significa, mas lembro que o doutor estava animado. Voltei para a casa com atestado médico de sete dias. No nono dia, mal conseguia levantar da cama e tive muita ânsia de vômito. Comecei a ficar desesperada achando que ia sangrar e perder a tentativa. Fiquei extremamente insegura, mal e novamente me senti desamparada.
Voltei a trabalhar uma semana depois da transferência, sem me esforçar muito. E assim foi até o tão esperado dia 19 de abril, dia em que faria o exame de sangue para saber se estava grávida. Dia em que um novo mundo poderia se abrir ou cair. O resultado só saiu no site às 22h30. O Beta deu 233 e tive muito medo de me apegar ao resultado positivo. O médico me disse que a gravidez só poderia ser mesmo confirmada mediante ao ultrassom e o som do coraçãozinho batendo, para descartar a possibilidade de uma gravidez nas trompas.
Lembro bem desse primeiro ultrassom: foi no dia 05 de maio. O médico nos olhou sério e disse: ‘Tenho uma notícia para dar que eu não sei como vocês receberão’. Eu tive certeza de que tudo ia água abaixo e perguntei: ‘O que aconteceu, doutor?’. E ele respondeu: ‘Vocês terão que dobrar o número de fraldas!’ e nos mostrou dois saquinhos gestacionais. O papai, que conseguia chegar mais perto do monitor, pôde ver dois coraçõezinhos pulsando. Tinha dado certo!
Era um misto tão grande entre felicidade, amor e preocupação! Quando completei 24 semanas, precisei fazer repouso absoluto, pois tive placenta prévia. Mas consegui levar a gestação até as 34 semanas. Meus bebês nasceram com 2.385 kg e 45,5 cm e 2.115 kg e 45 cm. Estavam cansadinhos e com icterícia, por isso passaram seis dias no hospital. Ter o Leonardo e o Davi foi mais que a realização de um sonho. Eles são minha melhor conquista
Depois deles, cheguei a engravidar naturalmente e inesperadamente, em 2013, mas perdi meu bebê com 12 semanas. Decidimos, então, não ter mais filhos porque o financeiro pesa muito. Mas se não fosse isso, certamente teria mais. A maternidade me transformou. Eu evoluí, aprendi a amar e descobri que por mais que a gente erre muito, com carinho tudo se resolve”.
Monica Begueldo Pires, 38 anos, mãe do Leonardo e do Davi, de 6 anos
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