“Perdi meu primeiro bebê na véspera do Natal e caí em depressão por um ano. Encontrei formas de me reerguer, redescobri minha espiritualidade e hoje estou grávida do meu terceiro filho”

Só quem já passou por esse sentimento de impotência, beirando o desespero e a depressão, sabe como é. A minha história começou em outubro de 2013, quando eu e meu marido resolvemos engravidar. Aconteceu no mês seguinte. Foi uma alegria!

Tínhamos feito planos de comemorar o Natal em família no nosso recém-inaugurado apartamento e aproveitaríamos a oportunidade para contar a novidade. Mas no ultrassom de seis semanas, descobri que perdi o bebê e aquilo acabou comigo! Fiz a curetagem na véspera do Natal. E, durante a noite, estávamos contando para a família uma notícia terrível ao invés de uma feliz.

O ano de 2014 foi um martírio em busca de uma nova gestação. Entrei em parafuso e nada mais me importava. Acabei caindo em depressão. Eu parei de ir para a academia porque simplesmente não tinha vontade e também não queria mais sair com os amigos. Acabava indo por causa do meu marido. Eu caía em crises de choro todos os dias. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser engravidar.

A tristeza piorava quando alguém próximo engravidava. Minha melhor amiga engravidou logo depois da minha perda. E eu me senti péssima. Não conseguia ficar feliz por ela porque achava injusto o que tinha acontecido comigo. Me sinto mal até hoje por ter sentido ‘inveja’ da felicidade dela. É horrível admitir, mas não acho outra explicação. Ainda bem que ela foi muito compreensiva comigo, porque eu não conseguia participar de nada e levei alguns meses para superar. Hoje ela é a madrinha do meu filho e sabe que isso fazia parte da depressão que eu vivia na época.

A sorte foi que eu não parei de trabalhar: recebi muito apoio dos meus amigos do trabalho e foi importante ocupar a cabeça. Com toda essa depressão, claro, eu não engravidava. Nesse meio tempo, fiz todos os exames possíveis e obriguei meu marido a fazer os dele também. E nada. Nenhum diagnóstico.

Falei pra minha médica que queria fazer indução da ovulação, mesmo não tendo uma indicação formal. Como sou médica também, ela acabou cedendo. Quem já fez sabe como é: quilos de hormônios, uma injeção caríssima e coito programado 36 horas depois da aplicação. Os efeitos colaterais foram horríveis e o coito programado era ridículo. E o pior de tudo era chegar ao final do ciclo com um resultado negativo.

Foram quatro tentativas, até que meu marido me disse que não aguentava mais viver aquilo todo mês. No fundo, eu também não. Receber um resultado negativo já era triste normalmente, mas depois de todo esse esforço era desolador. Durante esse ano, escutei muitas coisas. Mas a que mais me irritava era que eu tinha que ‘desencanar’. Só eu sei a raiva que eu tinha disso!

Para curar minha depressão, procurei me distrair de outras maneiras e fui me forçando a fazer coisas que sempre me trouxeram bem-estar. Por exemplo, eu tinha feito balé clássico por 11 anos. É a paixão da minha vida. Eu parei quando entrei na faculdade, mas sempre me prometi que um dia voltaria. Então, em junho de 2014 tomei coragem e me matriculei na turma de balé para adultos em uma academia perto de casa.

Lá fiz novas amigas que não estavam na vibe de engravidar. Até fizemos uma apresentação no final do ano, no Teatro Frei Caneca, e foi maravilhoso pisar em um palco de novo! Quando eu estava dançando, não lembrava do aborto nem me sentia a pessoa mais fracassada do mundo. Isso foi muito importante para me ajudar a superar tudo.

Além disso, para superar a depressão, mergulhei nos livros. Fui esquecer da vida, vivendo outras vidas. Mas chegou uma hora que só isso não era suficiente. Eu sentia minha vida estagnada e pensava: e se eu não tiver filhos? Minha vida vai ser só isso? Trabalhar e pagar contas? Até comecei a achar que o meu casamento era sem sentido! Aí pensei: preciso começar algum projeto novo. Ter mais algum objetivo. Foi quando eu resolvi concretizar a vontade de escrever um livro. E comecei a colocar no papel.

A história não tem nada a ver com que eu estava passando. É uma história de mistério. E eu mergulhei de tal forma que tinha pressa de sair do trabalho pra chegar em casa e escrever. Passava noites escrevendo. Juntei um grupo de quatro amigas e comecei a enviar os capítulos para elas. Foi um sucesso! Elas me cobravam mais capítulos e até formaram um grupo no Whatsapp para discutir a história. Aquilo foi muito gratificante e cheguei a pensar como seria fácil largar a medicina se eu pudesse virar escritora. Escrever foi fundamental para me tirar do fundo do poço.

Sei que depois daquela conversa séria com meu marido, quando resolvemos não induzir mais a ovulação, dei um ultimato a ele: se não engravidássemos em quatro meses, até março do ano seguinte, faríamos uma viagem para a Itália (que era meu sonho) e, quando voltássemos, procuraríamos uma clínica de fertilização. Ele topou. Mas já descobri que estava gravida no réveillon! Hoje tenho meu príncipe Lucas, que completa 2 anos em agosto. É meu presente de Deus!

Todo esse processo me fez até pensar minha religião: eu fui criada em família católica, mas nunca achei minhas respostas no catolicismo. Como sou hematologista, via muita gente sofrendo e pensava: ‘por que isso está acontecendo com esse paciente?’. Ao mesmo tempo, a espiritualidade de alguns pacientes me espantava. Como aceitavam e lidavam bem com uma situação que eu teria certeza que me faria me revoltar com Deus? Então, resolvi estudar o kardecismo e hoje vejo que o resgate da minha espiritualidade foi o motivo principal para eu ter passado por tudo isso. E isso me ajudou em muitos aspectos da minha vida. E como eu engravidei naturalmente, também acho que tem a ver com essa espiritualidade. No kardecismo, nada acontece por acaso. Deus não castiga. Uma situação difícil existe para te ensinar algo.

Depois desse nosso final feliz, esse ano resolvemos tentar o segundo bebê. Como tivemos toda essa dificuldade, não quis demorar muito para interromper o anticoncepcional, já esperando mais um ano de tentativas. Parei em fevereiro e engravidei em março. Estou com 16 semanas e supercuriosa para saber o sexo.

Sei que algumas meninas que dão seus depoimentos para o site estão tentando há mais tempo, mas quis dividir a minha história pois sou completamente solidária à luta de vocês. Ninguém mais sabe o que é passar por isso a não ser quem já passou. O que aprendi com a minha luta foi que nós fazemos os nossos planos, mas os planos para nós não são nossos. Espero que cada uma de vocês encontre, de uma maneira ou de outra, a felicidade que tanto busca”

 

 

Juliana de Matos Rosa, 35 anos, mãe do Lucas, de 2 anos


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