“Eu e meu marido fomos morar juntos em 2003 e sempre conversávamos sobre um dia ter filhos. Mas nunca foi ‘o’ desejo. Eu não tinha aquele instinto maternal superaflorado. Em 2013, fomos transferidos para Resende (RJ), eu estava com 32 anos e tínhamos 10 anos de casados. Conversamos muito, fiz terapia e tirei o DIU na condição de que engravidaríamos sem neurose.
Tentamos por um ano e meio e marquei um médico. Comentei que estava tentando engravidar e ele me passou vários exames hormonais e uma histerossalpingogafia. Mas só um ano depois retomamos os planos, agora com um médico de Curitiba. Ele me pediu um exame de contagem de óvulos e eu descobri que tenho baixa produção (meu antimulleriano deu 0,4: a mesma produção de uma mulher de 45 anos) e que os espermatozoides do Gabriel eram lentos. Resumindo: quando tinha óvulo, os espermatozoides não chegavam… Só me restava fazer uma fertilização!
Nosso maior medo era não saber quando desistir… se não desse certo até onde a gente iria? Combinamos de tentar apenas uma vez. Se desse certo, ótimo! E se não desse, íamos parar. Fizemos a FIV em dezembro de 2015 e veio nosso tão sonhado positivo.
Só que ao longo da gestação, minha pressão começou a subir e, no que seria apenas um ultrassom, o Heitor tinha parado de crescer. Ele tinha mais chance de sobreviver fora da minha barriga que dentro, mas eu estava de apenas 27 semanas e 5 dias… As artérias uterinas que alimentam o bebê tinham uma obstrução e ele havia parado de crescer na 24ª semana.
Então, fizemos a cesárea e o Heitor nasceu com 500g. Ele morreu seis dias depois e foi o dia mais triste da minha vida. Depois, descobri que eu tinha um gene pouco ativo para trombofilia. Eu não tinha feito enxoval ainda porque sou um pouco cautelosa, mas as coisas que eu ganhei, doei no dia do velório do Heitor.
Depois disso, fomos passar 20 dias em Curitiba na casa dos meus pais e quando retornamos voltei a frequentar a terapia e o centro espírita: acredito que a razão e a fé andam juntas e me ajudaram muito. Em março, voltamos a falar com o médico da FIV e decidimos que estávamos prontos para tentar novamente. Nessa segunda vez eu usaria Clexane para a trombofilia e faria acompanhamento com obstetra especializado em risco. Implantei dois embriões.
Mas minha progesterona estava muito alta e a prolactina, baixa. Precisei controlar isso com injeção e tive muitos efeitos colaterais: enjoo, dor de cabeça, inchaço… Mesmo assim, tentei levar uma gestação normal: tudo o que a médica liberava a gente fazia: viagem de uma semana para o nordeste, réveillon na praia… Quando entrei na 25ª semana, eu estava extremamente inchada e precisei ficar de repouso absoluto, pois minha pressão estava subindo muito. Cerca de 15 dias depois, tive uma pré-eclâmpsia, que estava se agravando em uma Síndrome de HELLP. Normalmente, nesse caso, a cesárea precisa ser feita com anestesia geral e em poucas vezes o bebê sobrevive.
Por sorte, eu estava bem amparada e não cheguei ao auge da síndrome. Fiquei apavorada, pois a Antonia precisaria nascer na 27ª semana, mesma semana em que o Heitor tinha nascido. Para me deixar mais tranquila, minha obstetra me deu um corticoide que ajudou na formação dos pulmões do bebê. A segunda dose levaria 24 horas pra agir e a Antonia nasceu exatamente nessa hora, com 940 gramas. Então, ela não precisou ser entubada. Mas passamos 81 dias na UTI neonatal.
Foram dias de um aprendizado fenomenal e onde conheci pessoas que fazem um trabalho incrível. E agora faz duas semanas que estou com ela em casa. É o nosso anjinho.
Vanessa Gravena, 37 anos, mãe da Antonia, de 3 meses