“Depois de sete fertilizações, duas perdas espontâneas e uma depressão, adotei. Mas ainda carrego a dor de não engravidar”

Minha história, infelizmente, não é daquelas ‘e foram felizes pra sempre’. Eu sempre sonhei em engravidar, mesmo antes de me casar. Sei lá… a gravidez, a barriga crescendo, um serzinho me chamando de mãe… esse sempre foi o meu conceito de felicidade.

Me casei em 2003, superapaixonada e feliz, com o homem que escolhi. De cara já queria engravidar, mas precisávamos de casa, carro e estrutura, e fomos batalhando por isso. Em 2005, sem imaginar tudo o que passaríamos, começamos as tentativas. O tempo passava e… nada. Todo mundo dizia que era porque eu queria muito, que devia relaxar e que na hora certa viria. Ouvir isso me angustiava, mas ainda achava que uma hora ou outra aconteceria.

Em 2007 começamos a pesquisar por que eu não engravidava. Teoricamente, estava tudo bem comigo, então partimos para investigar meu marido. De cara, descobrimos que ele tinha varicocele, que provocava uma queda no número e na qualidade dos espermatozoides. Achamos que seria simples e ele fez cirurgia, mas continuou tudo igual. Sem nenhuma melhora.

Fizemos duas inseminações artificiais, sendo que no mês em que fiz a segunda inseminação, minha mãe faleceu. Isso acabou comigo. A perda dela, associada aos hormônios, me deixou com uma depressão pesada. Nessa época, realizar meu sonho de engravidar era a esperança que me fazia levantar todos os dias da cama. Resolvemos, então, partir para a fertilização in vitro. E mais uma. E outra…

Na terceira fertilização, cheguei a engravidar, mas perdi com seis semanas. Retomamos as investigações e descobri que eu tinha um problema de coagulação no sangue. Nas quatro tentativas seguintes, fiz uso de anticoagulantes. Não bastassem as picadas de hormônios pra estimular as ovulações, agora ainda havia as picadas na barriga, pra ajudar os embriões a se fixarem no meu útero. Ao todo, fiz sete fertilizações.

Na sétima, já em 2011, engravidei de novo. Seriam gêmeos! Mas perdi com oito semanas. Durante todo esse período de tratamento, praticamente não contei pra ninguém. Fazia tudo sozinha. Em silêncio. Porque, afinal, já estava me acostumando com a ideia de que nunca daria certo. Foi um tempo muito difícil. Financeiramente, gastávamos tudo que ganhávamos em tratamentos. Psicologicamente, me afastei de quase todas as minhas amigas. Via uma a uma engravidando, tendo seus bebês, seguindo com a vida… e eu? Eu continuava com a minha. Sem sentido, sem esperanças, sem meu milagre.

Depois dessa vez, desisti dos tratamentos. Estava esgotada emocionalmente, financeiramente falida e com meu casamento destruído por tantas mágoas e frustrações. Decidi que era hora de parar, mas essa é uma dor que vou carregar para sempre. Como não sou uma pessoa que consegue esperar que as coisas aconteçam, durante esse período de tentativas resolvi entrar na fila da adoção achando que, enquanto estivéssemos esperando, a minha gravidez aconteceria. Doce ilusão. Nunca aconteceu.

Em 2012, quatro anos depois do começo do processo, fui chamada na Vara de Infância do Tribunal porque havia uma criança esperando para ser minha. E assim foi. Ela chegou à minha casa com 3 anos e hoje está aqui, me chamando de mamãe. Com certeza, ela alegrou a minha vida, mas o meu milagre, a minha barriga crescendo, o meu bebezinho saindo de mim? Isso nunca aconteceu. Desde que ela chegou, quase passei a acreditar que não queria mais engravidar, mas no fundo ainda achava que engravidaria. Todo mundo diz que depois que você desiste, a gravidez acontece. Comigo não aconteceu.

Desde 2005 até hoje, ainda procuro pelos meus dias férteis e, no fundo, todos os meses renasce em mim uma pontinha de esperança… mesmo que seja em vão. São 12 anos de tentativas, um casamento que girou em torno de uma gestação que nunca se concretizou, um certo distanciamento entre mim e meu marido, muitos hormônios estragando meu corpo, muitas depressões superadas e ainda tenho esperanças de encontrar meu final feliz.

Minha filha chegou com uns probleminhas que estou aprendendo a lidar, e hoje acredito que isso seja uma lição de paciência, mas desisti de ter um segundo filho, pela complicação que é o processo de adoção. O que eu mais desejo com esse depoimento é ajudar outras futuras mamães a verem que a dor não é só delas e que fica mais fácil quando dividimos estas angústias e decepções”.

 

 

Cristiane, 40 anos, mãe da Duda, de 3 anos

 


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