No mês passado eu fiz 40 anos e fiquei pensando em como deve ser mais dolorida a nostalgia de quem não viveu tudo o que poderia ter vivido. Lembrar dos convites recusados, das viagens não feitas, dos destinos não conhecidos, dos encontros entre amigas que pulamos pelo excesso de compromissos, das brincadeiras com os filhos ou sobrinhos que consideramos – na época – desimportantes, dos doces de vó com que deixamos de nos deliciar porque estávamos de dieta, dos shows que perdemos pra economizar… deve ser muito dolorido. Porque olha, do alto dos meus 40 anos, eu consigo lembrar de pouquíssimas ocasiões dessas. E ainda assim consigo entender, mais do que nunca, o significado da palavra nostalgia.
Esses dias, falei na terapia que sempre curti muito a vida (de cara limpa, tá? Se não for assim, considero fugir da vida) porque lá no fundo pensava que fosse morrer jovem. “Uma besteira”, você pode estar pensando. Pode até ser, mas eu pensava que se isso não fosse verdade no mínimo teria aproveitado bem meus dias. Talvez, tenha sido influenciada pela minha leitura favorita de adolescência – Diário de Adolescente – em que uma das protagonistas (Maria Mariana, acho) fala que ela deveria ter mais medo de morrer que o pai, porque ele, afinal, tinha vivido muito mais, mas ela poderia apenas atravessar a rua e ser atropelada. Quem teria perdido mais ao morrer, então? (Maria Mariana, se algum dia você ler esse texto, saiba que nunca te vi, mas sempre te amei)
Então, fui em todas as baladinhas adolescentes que pude. Vivi todos os carnavais da minha vida. Não recusei viagem. Namorei, beijei e dancei tudo o que quis na adolescência e juventude. Aproveitei a vida adulta, encontrei meus amigos e minha família sempre que pude. Amei enlouquecidamente meus seres queridos. Talvez eu não seja presente como meu irmão, minhas primas ou minha melhor amiga. Mas eu fiz meu melhor, sabendo que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã (é, talvez meus ídolos de adolescência tenham influência nesse modo de pensar…).
Por que todo esse blablabla? Porque data redonda faz a gente pensar, traz um balanço inevitável e, sim, certa nostalgia.
Eu lembro de, na época da câmera fotográfica analógica, ter ido visitar o vulcão Etna, na Itália. Quando descemos do ônibus, vi uma terra bem preta – de lava, acabei descobrindo – com flores muito coloridas sobre ela. Era uma cena encantadora. Na hora, resolvi seguir o grupo e pensei que haveria essas flores por todos os lugares, mas qual não foi minha decepção quando percebi que a chance já tinha passado. Aquilo pra mim foi muito significativo. Não deixo mais nada para depois. Até os cabelos de rosa – sonho de adolescência – eu pintei.
Em tempos de COVID, isso ficou ainda mais claro. Eu, que não comemorava meu aniversário com festa há anos, tinha decidido celebrar os 40 com música ao vivo e amigos reunidos. Pá! Não vai ter festa, não. E, olha, isso realmente é nada perto de pessoas perdendo seus entes queridos ou precisando trabalhar sob um risco imenso de contágio.
Mas, com festa ou sem festa, eu cheguei. Já tive tanto medo dessa idade, gente! Nos meus pesadelos enquanto não conseguia engravidar parecia que eu chegaria aos 40 e subiria aquela tela de final de novela com uma música dramática e a palavra FIM. E aqui estou eu, prestes a comemorar os 2 anos do Raul e sem perder a esperança de um dia dar uma irmãzinha pra ele. E, veja só, vida, sua louca, você não é um filme e, se der certo, vai ser com certeza depois dos 40 😉
No entanto, sigo lembrando: que a gente viva nossos dias tirando o máximo proveito do PRESENTE que eles são. Sem esperar nada acontecer. Porque morrer sem ter vivido deve ser muito sofrido.
Leandro 5 de novembro de 2021
Posso garantir para você que não viver uma etapa da vida é terrível. A insegurança impediu a minha adolescência totalmente, e desta forma eu não vivi absolutamente nada desta fase, apenas fui um adolescente recluso por todo esse tempo. De repente quando percebi, eu já era um adulto, sem nenhuma experiência, nenhum contato, nenhuma lembrança, somente arrependimento.
Hoje, a algo dentro de mim que sente falta dessa vida, uma vida que eu não vivi, como se algo me acussasse ou me cobrasse uma experiência que eu não posso dar. No fim, eu sei que nada disso pode ser recuperado, não importa o que seja feito ou dito, não importa se eu faça terapia, leis livros motivacionais, ou até mesmo simule estes momentos, a realidade é muito mais cruel e complicada que isto. Ficarei cada vez mais velho a cada dia, e quando essa velhice me tirar tudo, só me restará o lamento por tudo aquilo que não vivi, pois no envelhecimento costumamos rebobinar nossas vidas para suavizar o fim de um ciclo. No meu caso, deverei ser um senhor sem nada para lembrar além da culpa é do arrependimento. Isto sim é triste.
Pri Portugal 3 de março de 2022
Sinto muito, Leandro. O bom da vida é que nosso passado não nos define. A gente pode decidir aproveitar a vida já 🙂 Sinta-se abraçado e um feliz 2022. Bjinho, Pri Portugal (criadora do site)