30 de janeiro é o dia da saudade. E precisamos viver nossos lutos

Hoje, a caminho de um exame de rotina, entro no táxi e a TV está ligada. Entre as notícias da chegada de Eike Batista ao Brasil, Fátima Bernardes começa o programa “Encontros” declarando: “hoje é o dia da saudade” e levando dois casais de pais que perderam seus filhos pequenos pra uma fatalidade. 

Obviamente, não tem como comparar diferentes formas de luto, mas às vezes me pego pensando o quanto não engravidar é como viver um pequeno luto todos os meses – e um grande ao longo dos anos. E quando ela falava sobre o que já é ponto passivo entre psiquiatras e psicólogos, ou seja, as fases do luto, me identifiquei mais uma vez com esse processo.

Quem criou essa teoria foi um psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico chamado Edward John Mostyn Bowlby. Segundo ele, as fases do luto são: 1) o entorpecimento, 2) o anseio, 3) a desorganização e o desespero e 4) a reorganização.

Veja se você também se identifica com estas etapas ao longo do tempo em que tenta engravidar:

No primeiro ano, você ainda está lá esperançosa e se depara com 12 – nada menos que 12 – “negativos”, seja quando sua menstruação vem, seja quando faz algum exame que traz resultados negativos. É aí que começa o seu luto.

Primeiro, você começa a negar a realidade – “é normal” – e fica aflita.

Em um segundo momento, quer correr atrás do prejuízo: visita médicos, busca um diagnóstico, tenta descobrir quais são os primeiros sintomas de uma gestação para identificá-los no seu corpo, procura especialistas e tratamentos de fertilidade. A culpa e a ansiedade sufocam o coração. É como se surgisse uma saudade do que não vivemos.

É quando vem a terceira fase: você começa a perceber que nada está nas suas mãos e que por mais que se interesse, preocupe e faça de tudo para realizar seu sonho, isso não é garantia de que um dia você vá aparecer com aquele barrigão lindo. Então você se frustra, sente raiva, tristeza e até inveja (sim, somos humanas, desculpa) de quem engravida com a maior facilidade. Pode acontecer muita coisa boa na sua vida, mas você só consegue pensar no bebê que ainda não chegou. Você se apega a uma religião ou se revolta contra ela. Desculpa, de novo, mas é humano.

Por fim, você retoma as suas atividades, repensa muitas coisas na sua vida – seu casamento, seu emprego, seu futuro, talvez uma adoção? – e aceita a realidade.

Esse sentimento doído é muito mais comum que a gente imagina e é por isso que temos uma seção aqui no Cadê Meu Neném? que reúne depoimentos de quem passa ou passou por isso. Descobrir que não estamos sós ajuda a sobreviver a esta “saudade”. E muito. Já deu uma olhadinha lá?

 

 

*Foto: Flickr/Cathy Baird

 

 

 

 


3 thoughts on “30 de janeiro é o dia da saudade. E precisamos viver nossos lutos

  1. […] chorar. Eu sei o que você está sentindo essa semana. É uma dor que parece uma pedra muito grande,... cademeunenem.com.br/dia-das-maes-pode-chorar
  2. […] que vivam seus lutos e que possam seguir adiante com seus anjos no coração. Sintam meu abraço mui... cademeunenem.com.br/luto-pela-perda-gestacional
  3. […] diz: “meu marido deve estar de saco cheio de me ver chorar” (ah, a bendita pressão pela felicid... cademeunenem.com.br/estou-preocupada-com-nossa-autoestima

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