“Tive uma perda gestacional com oito semanas e levei cinco anos para engravidar novamente”

Como aos 17 anos eu tinha sido diagnosticada com ovários policísticos (o que mais tarde descobri que tinha sido um diagnóstico errado), sabia que poderia demorar para engravidar. Mas, na minha cabeça, demorar era 1 ano, e não 5. Eu não tinha ideia do que iria passar nem do que era uma perda gestacional.

Eu estava tão desencanada que já engravidei no primeiro ciclo. Logo pensei: esse negócio de engravidar é muito fácil! Porém, no primeiro ultrassom, com 8 semanas, o bebê não tinha batimentos cardíacos. Lembro que era um sábado de carnaval e eu já tinha contado para todo mundo que eu estava grávida.

Não tive coragem de sair avisando, então passei um tempo com as pessoas colocando a mão na minha barriga e perguntando do bebê. Foi bastante triste porque escolhi não fazer a curetagem e fiquei com o aborto retido por aproximadamente um mês e meio. Na minha cabeça ficava a imagem de que eu era uma grávida de um bebê morto.

Sem contar que minha médica na época não me deu apoio nenhum. Para eles é mais um embrião apenas, mas para a mãe, é o filho dela. Ela ainda falou que o acompanhamento dessa perda gestacional deveria ser feito no Pronto-Socorro, ou seja, na maternidade. Isso me deixava arrasada. Meu coração estava aos pedaços e, ao meu lado, passavam grávidas, bebês que tinham tido alta, famílias com balões comemorativos.

Depois disso, passei cinco anos tentando. Por muito tempo tive medo de investigar e descobrir que não poderia ter um bebê. Foi difícil enfrentar o assunto. Após 3 anos de tentativas fui a uma nova ginecologista. Como eu pesava por volta de 98 kg e era pré-diabética com pressão alta, a médica acabou comigo. Parecia uma aula de estatísticas de tragédia. Eu já tinha emagrecido bastante, mas ela só via o lado ruim.

Nessa época, passei por um momento de que tenho muita vergonha. Eu ficava com uma certa raiva de quem engravidava. Acho que ir à psicóloga me ajudou, porque controlou minha compulsão por comida e me ensinou a lidar com toda a frustração.

Passei, então, um ano sem querer saber do assunto. Tinha desistido de ter um bebê, mas não conseguia voltar a tomar o anticoncepcional. Engordei novamente e o que era pré-diabetes virou diabetes. Depois deste ano, passei em outro ginecologista que me explicou exatamente quais eram os riscos da gravidez com o diabetes. Iniciamos aí os exames para investigar.

Depois de controlar a glicose, fui procurar uma clínica de fertilidade. Fizemos um trilhão de exames e a médica nos disse que não tínhamos problema nenhum. Se tivesse algum problema, era só tratar, afinal, saberíamos com o que estávamos lidando. Mas sem um diagnóstico, faríamos o que?

Estava decidida a fazer uma fertilização in vitro e, nos últimos meses antes do tratamento, tomei um indutor de ovulação. Também segui todos os conselhos que ouvi: tomava chá de folha de amora e de inhame, comi inhame de todo jeito que você imaginar… Comia abacaxi, tomava água inglesa e colocava as pernas para o alto ao final da relação.

Decidi que outubro e novembro seriam os meses do tudo ou nada. No dia do meu aniversário, em 24 de outubro, fui ao médico para fazer um ultrassom que ele me pediu, de medo de uma hiperovulação. Para nossa surpresa, tinha só um. Na hora fiquei triste, mas o médico disse que era o suficiente para uma tentativa natural. Na virada do mês, minha menstruação desceu normalmente.

No dia 17/11 voltei para fazer mais um ultrassom e NÃO TINHA NENHUM ÓVULO. Fiquei super, mega, hiperarrasada! Esse dia parecia o fim do mundo para mim. No final no mês, minha menstruação desceu, mas um pouquinho menos. No dia 01 de dezembro, cheguei em casa mais de meia-noite do trabalho. Eu estava enjoada, só que achava que eram os comprimidos e vitaminas que eu tomava desde julho.

Afinal, eu não tinha tido óvulo aquele mês e minha menstruação tinha descido em novembro. Nessa hora, eu tinha até dó de mim, porque não tinha motivo para ter esperança. Mas achei melhor fazer o teste. Estava todo mundo dormindo e ninguém ia saber quão boba eu era. Fui tirar a roupa para tomar banho e deixei o teste na pia. Quando olhei, não pude acreditar: tinha dado positivo! Sentei na privada, enrolada na toalha, fiquei olhando e pensando: meu Deus, essa brincadeira não tem graça. O que será que eu tomei que poderia dar um falso positivo?

No dia seguinte, fiz o exame de sangue logo cedo. Fui na farmácia e comprei mais 4 testes, um de cada marca disponível. E todos deram positivo! Pelo ultrassom que fiz depois, eu engravidei em 25 de outubro. Por isso não tinha óvulo no exame de novembro. Depois que vi que realmente estava grávida, mal dormia com medo de perder novamente. Isso até o ultrassom das oito semanas.

De toda essa história, sei que nunca abandonei minha fé. Era isso que acalmava meu coração, no meio da madrugada, quando eu chorava loucamente pela perda gestacional e pela dificuldade de engravidar. Foram muitas velas, orações e promessas. O Lucas está com dois meses e ainda não sei se vou ter mais um filho, mas estou guardando as roupas mais bonitinhas. Quem sabe não vem uma Maluzinha?”.

 

Juliana Itami, 32 anos, mãe do Lucas, de 2 meses e meio


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