“Eu e meu marido nos casamos há sete anos e tínhamos em mente começar a tentar após o término da minha faculdade, então comecei a tomar um anticoncepcional. Só que um dia fomos à farmácia e ele estava em falta. Aí, um farmacêutico nos orientou a comprar o genérico. Resultado: eu acabei engravidando. E olha que perguntamos se precisava usar preservativos por se tratar de um produto genérico!
Quando tive o resultado positivo foi um susto: um misto de alegria e medo. Eu estava grávida! Mas apenas sete dias depois, em 19 de fevereiro de 2015, comecei a ter cólicas e sangramento. Nosso chão se abriu sob nossos pés. Havíamos perdido nosso maior sonho, nosso bebê, que estava com 8 semanas de gestação.
Fui levada às pressas para realizar uma curetagem e essa foi a pior sensação que já vivi. É um procedimento invasivo e, olha que horror, me deixaram na mesma sala onde havia mulheres grávidas quase ganhando seus bebês. E eu com o meu já sem vida dentro da minha barriga… foi uma falta de humanidade sem fim.
Passado o procedimento, voltamos à ginecologista, que apenas nos deu um tapinha nas costas disse que era mais normal do que eu imaginava ter um aborto espontâneo. Até então, nem desconfiava da trombofilia. Paramos de vez com o método contraceptivo e, em 14 de novembro de 2015, nova explosão de felicidade e medo. Ouvimos o coraçãozinho: que felicidade! Mas no dia 20 de novembro nosso pesadelo aconteceu de novo. Nova perda, nova curetagem. Foi simplesmente horrível.
Durante esses dois anos, o medo de nunca ter nosso bebê imperava. O peso sobre nossos ombros era imenso e difícil de carregar. Nos sentíamos culpados e impotentes diante de tudo isso, porém sempre encontrávamos forças um no outro para continuar lutando.
Começamos a pesquisar a internet inteira, pois não concordávamos que um aborto era normal! Achamos um médico especialista em obstetrícia de risco e fizemos uma bateria de exames. Apareceu uma anomalia no genótipo do meu esposo: era uma inversão cromossômica no cariótipo inv (9) (p12q13).
O resultado do exame veio no rodapé e trazia a palavra que mais temíamos: Infertilidade! Corremos atrás de um especialista, que disse que o resultado estava errado. Ufa, que alivio! Mas quando chegaram os resultados dos demais exames, ele constatou a trombofilia, que é uma trombose gestacional. Funciona assim: o sangue da gente coagula e cria um obstáculo ao cordão umbilical, deixando de oxigenar e nutrir o bebê, e ainda por cima descolando o feto da parede do útero.
Com este diagnóstico da trombofilia, começamos o tratamento. Quando engravidei pela terceira vez, já estava com tudo pronto e iniciamos o uso das injeções diárias. Ao todo, foram mais de 270 picadinhas de amor. O medo continuava: será que vai dar certo? Será que vamos ter que passar por tudo de novo?
As primeiras seis semanas se passaram e não aconteceu nada. Oito semanas e.. ufa! Cada semana era uma vitória, cada ecografia em que ouvíamos seu coraçãozinho era incrível. Tínhamos tanto medo de chegar na sala da ecografia e não escutar nada! Foram 39 semanas de muita apreensão, porém, cada dia que passava ia chegando mais perto a realização nosso sonho.
Mas finalmente chegou o tão esperado dia. Fomos pra maternidade cheios de medo. E a Letícia nasceu. Quando o médico a colocou do meu lado, foi a melhor sensação da minha vida. Fomos para o quarto e eu ainda estava tonta da cirurgia, mas o coração explodia de orgulho e felicidade.
Para quem está no meio do vendaval, eu digo: lute pelos seus sonhos, busque especialistas e não desista, pois é possível. Acredite sempre e mantenha o pensamento positivo, porque 50% do sucesso estão na sua mente e os outros 50%, nas mãos dos especialistas”.
Priscila Menegolo Torques, 27 anos, mãe da Letícia, de 1 mês e 9 dias
Fotos: Danieli Hathy