“Passei por todas as fases: briguei com o meu marido, transar começou a perder a graça, meu corpo me boicotava e peguei bode. Por ora, desisti”

“Eu nunca fui doida pra ter um bebê, mas eu me imaginava grávida. Ao mesmo tempo, nunca fechava os olhos e dizia: ‘vou criar meu filho assim’, então, casei com 36 anos e não tive pressa: nossa ideia era aproveitar o casamento primeiro para depois pensar nisso.

Só que se passaram apenas seis meses e me dei conta de que era hora, sim, de começar a planejar. Depois de três meses tentando, fui à médica. Ela me disse que era normal esperar até um ano, mas como eu já tinha 37 anos, me aconselhou não esperar tanto. Eu nunca quis fazer fertilização in vitro, mas topei fazer todos os exames possíveis e foi uma fase muito difícil. Nesse meio-tempo, tomei umas pílulas para estimular a ovulação por três meses. Quando li as bulas, fiquei muito nervosa, e fui ficando com raiva de sofrer tanto.

Aliás, passei por todas as fases: tive raiva do meu marido, não queria mais ter relações, aí descobri meu ciclo para poder saber o período fértil, mas parecia que meu corpo queria me boicotar porque eu sentia cólicas justamente na semana da ovulação. Lembro que meu primo estava lá em casa e eu só pensava: como é que a gente vai transar com uma criança aqui no quarto do lado? Toda a nossa programação girava em torno da semana da ovulação.

Eu achei um médico bom, mas antes dele passei por um especialista que queria marcar o tratamento para o mesmo dia, já chegou passando o preço e tudo. A gente ficou revoltado. Chegou a um ponto em que sexo estava virando uma obrigação e eu vivia nervosa, em uma TPM constante.

Aí, eu passei meses monitorando o meu ciclo com acompanhamento médico para depois investir em uma inseminação. Hoje, vejo que fiz isso para adiar o tratamento. Nunca quisemos fertilização: se não desse certo por vias naturais, não íamos querer. No sexto mês tive uma crise de choro no consultório e o próprio médico me disse para dar um tempo.

Então, a gente foi pra Fernando de Noronha e eu tinha certeza que, lá, ia relaxar e engravidar. Além disso, depositei todas as minhas esperanças em engravidar enquanto estava empregada e me sentindo segura. Só que minha vida estava de cabeça para baixo e resolvi voltar para a terapia. Foi a melhor coisa que eu fiz porque desviei o meu foco.

Lá, percebi que eu queria engravidar. Mais engravidar do que ter filhos. Aprendi a entender isso. Eu sinto que tenho amor e preciso dar para algum ser, mas não necessariamente para um bebê. Quem sabe um cachorro? Caí na real: as transformações da gravidez vão me fazer mal porque não vou conseguir recuperar meu corpo – eu sempre fui gordinha e nunca gostei disso – e, aí, essa criança vai nascer com uma carga de culpa. Eu vou jogar no colo dela um discurso de: ‘olha o que eu passei para ter você’.

Vou te falar que, mesmo que tenha desistido, por ora, basta minha menstruação atrasar um dia para eu ficar pensando: será? Já li depoimentos de mulheres que estavam grávidas e continuavam menstruando, então fico pensando… vai que? A gente fica insana! Já tentei tomar florais, fazer simpatia… e olha que eu sou uma pessoa cética.

No final das contas, fiquei tentando por um ano e meio. Eu ‘virei a chave’ quando coloquei na balança: meu casamento ou um filho? Porque eu sei que se continuasse naquela tensão, eu ia perder meu marido, já que estava ficando birrenta e chata. E minha vida com ele é muito boa pra eu abrir mão disso. Então, eu parei porque cansei. Peguei bode do assunto. Chega uma hora que você vê que atingiu o seu limite”.

 

Juliana, 38 anos

 


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