Quarentena, isolamento e solidão no dia das mães

Eu sei. O dia das mães já é uma data de muita solidão para quem gostaria de ter seu filho nos braços. Por mais que a gente viva a benção de poder comemorar a data com nossa mãe, ainda falta aquele pedaço bem importante que a gente deseja tanto. Mas esse ano as coisas estão mais pesadas. Estão tristes. Estamos todos enclausurados, numa incerteza danada sobre o amanhã, com medo de ter uma doença que nem sempre se manifesta na forma de sintomas e, pior, pode contaminar quem mais amamos. Ou com o tratamento de FIV interrompido. Ou com o casamento e nossas relações familiares abaladas por questões políticas…

O clima está tenso. E a gente vai se fechando no universo particular de cada uma. Solidão. E cada vez passando mais tempo nas redes onde tudo parece perfeito. E sonhando com uma vida irreal. Sem poder abraçar muitas das pessoas que amamos, sem sentir aquele cheirinho de vó. E fantasiando teorias malucas que nos deem uma brecha para escapar desse isolamento social que, sabemos, é o mais sensato a se fazer no momento.

Isso, para quem já fica sensível no dia das mães porque ainda não pode comemorar como deseja, é massacrante. Como diria uma música: “deixa eu chorar até cansar. Minha dor eu não consigo compreender. Me deixa aqui, pode sair”. Sim. Eu sei. A gente sente tudo isso. E eu não canso de falar que precisamos viver todas as nossas dores.

Mas depois que as lágrimas escorrerem, é preciso secar o rosto. É fundamental secar o rosto e seguir. Quem sou eu para falar aqui de evolução espiritual, mergulho em busca de autoconhecimento ou oportunidade para aprimorar a paciência… Estou a anos-luz dessa serenidade. Mas preciso olhar para o lado, para a frente, para fora. Erguer o pescoço, sair da água e respirar. Como falei para uma amiga estes dias: estamos uma contagem regressiva para o fim dessa pandemia. A diferença é que não sabemos quando essa contagem acaba.

Então, meninas, o que eu quero falar aqui é o seguinte: a grama do vizinho não é mais verde que a sua como parece. A mãe de Instagram pode estar enfrentando batalhas duras em casa, sem sequer se olhar no espelho há dias pela demanda esperada dela. Ou pela pressão que se impõe. Ou por toda sorte de culpa que insiste em sentir.  A celebridade de casamento perfeito pode estar dormindo em quartos separados com o marido e vivendo em solidão. A família de propaganda de margarina pode estar passando por cima de mentiras para manter as aparências.

Estou dizendo que o mundo é horrível e não vale a pena viver? CLARO QUE NÃO! Estou dizendo que continuar levantando da cama todos os dias já é mérito em tempos sombrios. Que tomar aquele café da manhã gostoso ou dançar varrendo a casa podem trazer a energia de que você precisa para seguir em frente. Vale investir um tempinho para descobrir o que é que eleva suas energias e outro tempo para se dedicar a essa atividade.

Esquece o Instagram. Esquece o Facebook de mamães e bebês felizes. Esquece os outros. Faz uma chamada de vídeo bem bonita com sua mãe, sua sogra e sua avó. E pensa em vocês e nada mais. Porque isso tudo vai passar – o coronavírus e sua espera por um bebê – e quando isso acontecer, você precisa estar forte.

Eu, como sempre, estou na torcida!

Foto: Flickr / Ivan


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